quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Amy Winehouse pode ter morrido de abstinência, diz especialista

Logo após a morte da britânica Amy Winehouse, em 23 de julho passado, teorias sobre as causas do óbito começaram a aparecer.
Além da tese óbvia de uma overdose de drogas, havia a possibilidade, levantada pela família, de a cantora ter morrido por abstinência de álcool – ela teria decidido cortar a bebida radicalmente e não aos poucos, como recomendara um médico. A tese ganhou força nesta terça-feira, quando o porta-voz da família, Chris Goodman, divulgou os resultados do exame toxicológico feito no sangue e no tecido da cantora. Segundo o comunicado, não foram encontrados vestígios de droga no organismo de Amy, apenas álcool em quantidade insuficiente para causar a morte, que permanece inexplicada. De acordo com o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, é raro, mas a abstinência pode matar.

“Durante a abstinência, a pressão pode aumentar, a pessoa pode ter taquicardia, tremores, ficar ansiosa, suar frio”, diz Andrade. “O grau máximo da abstinência é chamado de delirium tremens, em que o paciente passa a ter crises convulsivas.” O Delirium tremens pode ocorrer quando uma pessoa interrompe o consumo de álcool depois de beber por muito tempo. A falta de alimentação também pode agravar a situação. Segundo o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, é mais comum em pessoas que tomam entre 4 e 5 doses de vinho ou até oito doses de cerveja por dia - durante vários meses. De acordo com Ana Cecília Marques, da Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas, em torno de 5% dos pacientes podem desenvolver essa síndrome de abstinência grave.

Entre os sintomas, os pacientes podem sentir medo, sofrer alucinações, convulsões, dores no peito, febre e vômito. Em geral, esses sinais aparecem a partir de 72 horas após a retirada total do álcool do organismo. Estudos sugerem, porém, que eles podem ocorrer entre 7 e 10 dias após a última dose ingerida. Depois desse período, os sintomas pioraram progressivamente. “Quando essas pessoas param de beber, acontece um ‘caos químico’ no sistema nervoso central. Além de alucinações e convulsões, o paciente também apresenta alterações no sistema cardiovascular e no sistema respiratório”, diz Ana Cecília Marques. “Antes, o cérebro do paciente havia desenvolvido uma tolerância ao álcool. Sem ele, tudo deixa de funcionar como deveria. A pessoa pode morrer por falência.”

Arthur Guerra de Andrade explica que, em casos de crise de abstinência séria, o paciente deve procurar um serviço de emergência, onde será atendido numa Unidade de Terapia Intensiva que tratará os sintomas com medicamentos anticonvulsivos, calmantes, entre outros. Sem a ajuda de um médico, segundo Ana Cecília Marques, dificilmente o paciente sobrevive.

Para quem deseja parar de beber, os médicos indicam a interrupção total da bebida alcóolica. A decisão, porém, deve ser acompanhada de perto por um especialista, capaz de controlar sintomas de uma possível complicação, como é o caso da síndrome de abstinência grave. O pai de Amy, Mitch Winehouse, disse que sua filha lutava contra o álcool havia anos e, quando morreu, estava completando três semanas sem beber. O resultado do inquérito sobre a morte da cantora britânica deve ser conhecido no dia 26 de outubro.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Estresse e álcool: ligação perigosa

Tomar uma cervejinha para relaxar depois de um dia estressante de trabalho pode até parecer uma boa ideia. Mas, na medida em que o estresse altera as reações psíquicas e fisiológicas em relação ao álcool, a pessoa pode ser levada a beber além da conta e ainda ver seu problema tornar-se crônico.
Uma pesquisa da Universidade de Chicago, que será publicada na edição de outubro da revista científica Alcoholism: Clinical & Experimental Research, indica que a relação entre álcool e estresse é intensa e bidirecional: tanto o estresse pode estimular o aumento de consumo de álcool, como o álcool expõe quem o consume ao risco de desenvolver distúrbios permanentes de estresse.
Na opinião da psiquiatra Ana Cecília Marques, da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o estudo confirma uma ideia que vinha sendo sugerida por pesquisas anteriores. “Essa relação é realmente muito forte. Outros estudos mostram que as doenças que mais vêm associadas ao abuso de álcool ou alcoolismo são as dos transtornos de ansiedade”, comenta.
O estudo norte-americano submeteu 25 homens saudáveis, entre 18 e 32 anos, a duas tarefas: uma estressante e outra livre de estresse. Após cada atividade, os participantes recebiam uma dose de álcool por via intravenosa, equivalente a dois drinques. A reação variou de um indivíduo para outro. Nos participantes em que o álcool normalmente exercia um efeito estimulante, a presença do estresse diminuiu esse estímulo e aumentou a sensação de sedação.
Já nos homens que relataram não sentir estimulação por meio do álcool, o estresse diminuiu a sedação e aumentou a vontade de ingerir mais álcool. Em todos os participantes, o álcool injetado logo depois da situação estressante bloqueou o aumento do hormônio cortisol, fator diretamente relacionado ao estresse.
Segundo a autora do estudo, Emma Childs, os achados ilustram uma interação complexa entre estresse e álcool.
“O álcool diminui a resposta hormonal ao estresse, mas também estende a experiência negativa do evento”, afirma. Segundo ela, as respostas do estresse são benéficas porque ajudam o indivíduo a reagir contra eventos adversos. Assim, alterando o modo como o corpo lida com essa sensação, seria possível interferir no risco de desenvolver doenças relacionadas ao estresse. “Por outro lado, o estresse pode também mudar o modo como o álcool nos faz sentir, de forma que ficamos mais propensos a consumir mais álcool.”
Segundo o psiquiatra Vladmir Bernik, coordenador da Psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, usar o álcool para amenizar o estresse é uma forma de fugir dos problemas. “Quando o indivíduo está inapto para lutar, ele foge, tanto usando ansiolíticos como consumindo álcool”. Para ele, a bebida tende a aliviar os sintomas psíquicos e físicos do estresse, mas quando existe um abuso, a substância interfere no ciclo do hipotálamo, no cérebro, e produz uma resposta paradoxal: em vez de relaxar, a pessoa passa a ter sintomas de ansiedade e depressão.
“Pessoas altamente estressadas usam a bebida como se fosse um remédio, pois ela desliga a chavinha da ansiedade”, diz Ana Cecília, da Unifesp. “Mas indivíduos dependentes podem apresentar distúrbios. Como a substância age nas mesmas vias do estresse, ela pode desregular essas vias.”