quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Participação como entrevistadora no Programa Roda Vida:

“O país está se acabando em crack”


Rubem César Fernandes, diretor da ONG Viva Rio, fala sobre pesquisa que aponta o Brasil como o maior mercado de crack do mundo.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Álcool na Gestação

O impacto da bebida alcoólica no organismo das  mulheres é diferente daquele que  ocorre no homem, e muito mais  deletério. Isso ocorre devido  a menor quantidade de água  presente no organismo das  mulheres, o que faz com que  o álcool seja distribuído e  metabolizado mais rapidamente,  assim como pela presença entre as mulheres de uma  quantidade bem menor de enzimas hepáticas que  metabolizarão essa substância. A mulher é muito mais  vulnerável ao álcool em todas as fases de sua vida.

Durante a gestação, o abuso de álcool pode levar a Síndrome Fetal pelo Álcool que é caracterizada por  retardo mental grave e outros problemas congênitos,  incluindo retardo de crescimento, anomalias faciais  e cardíacas. Uma vez que a quantidade de álcool  considerada segura durante a gestação ainda não se  encontra determinada, a abstinência é recomendada.

Uma criança que sofreu as consequências do etanol  durante o seu desenvolvimento no útero, apresenta  inúmeras limitações intelectuais, dificuldades nos testes  de aritmética e em seu desenvolvimento sócio-emocional,  assim como a alteração da memória e da atenção, que  repercutirão na sua vida escolar e social.

O álcool na gestação é a primeira causa não genética  de retardo mental, e que pode ser evitado. Mães que usam o álcool de forma pesada durante a  gestação tem chance duas vezes maior de ter filhos com  transtornos de personalidade e transtornos relacionados  ao uso de substâncias na adolescência. O uso do álcool  na gestação é um importante fator de risco para a  ocorrência de doenças psiquiátricas na prole em idade  adulta.

Observando tantas susceptibilidades na relação da  mulher com o álcool, é possível concluir que a prevenção  é o melhor caminho, pois as abordagens utilizadas para  aquelas  que fazem uso problemático na gestação ou em  outra fase da vida, além de complexas, podem apenas  minimizar e não resolver o resultado do uso na mulher  e o impacto em seus filhos. Prevenir é muito melhor que remediar!



domingo, 9 de setembro de 2012

Treinamento de enfermeiros é falho para cuidar de dependente químico


É o que afirmam especialistas sobre funcionários do Hospital Lacan, em São Bernardo, que sofrem ataques e ameaças de pacientes


Protesto em frente ao Lacan, onde uma funcionária já foi ameaçada de morte. Foto: Amanda Perobelli  

Especialistas em atendimento a dependentes químicos revelaram que os casos de agressão e ameaças infringidas a funcionários da ala destinada ao tratamento de dependentes químicos do Hospital Lacan, localizado em São Bernardo, podem estar ligados a falhas no treinamento do corpo de enfermagem. No último dia 21 de agosto, um grupo do corpo de enfermagem denunciou episódios de violência.

Desde o início do mês, cinco técnicos de enfermagem foram agredidos e ameaçados por internados. O último caso ocorreu no dia 17, quando uma trabalhadora foi ameaçada de morte com uma arma branca, fabricada por um interno. No caso mais grave, ocorrido em 2 de agosto, quatro funcionários foram amarrados, amordaçados, espancados e roubados por pacientes que fugiram em seguida. 

De acordo com os funcionários ouvidos pela reportagem – que não quiseram revelar as identidades por temerem represálias da direção do hospital –, as ameaças são constantes. “Não temos segurança para trabalhar, vivemos com medo”, afirmou uma técnica de enfermagem. A reivindicação é de que a segurança seja reforçada na unidade. Atualmente, apenas seguranças patrimoniais atuam no hospital.

A Associação Brasileira de Psiquiatria informou que não existe legislação específica que preveja seguranças dentro de clínicas e hospitais psiquiátricos. Para Ana Cecília Petta Roselli Marques, psiquiatra, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e conselheira consultiva da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas), casos como os relatados no Hospital Lacan não são comuns nos centros de tratamento de dependentes químicos.

Jeito - “Os pacientes podem ficar agressivos durante as crises de abstinência e o corpo clínico deve conter o indivíduo física ou mecanicamente (com o uso de camisas de força). Depois é aplicado o medicamento e normalmente o paciente se acalma. Não há necessidade de seguranças dentro do hospital ou clínica para isso”, relatou.

Ana Cecília reforçou que uma equipe bem treinada e entrosada consegue notar as mudanças no comportamento dos pacientes, evitando situações perigosas e agindo com tranquilidade. No entanto, a agressividade demonstrada no caso do Lacan chamou a atenção da psiquiatra, com 30 anos de experiência na área. “Em toda minha carreira nunca vi esse tipo de situação. É preciso checar o diagnóstico destes pacientes, que parecem sofrer de transtorno de conduta. Nestes casos, esse tipo de hospital não é o ideal para a internação”, comentou.

Psicólogo afirma que violência é comum

O psicólogo Marcos Levi Gonçalves Mello, que também acumula 30 anos em atendimento a dependentes de drogas e álcool e já trabalhou no Lacan, afirmou que casos de violência por parte dos pacientes não são incomuns. “Isso pode acontecer, mas o ponto crucial é treinar permanentemente a equipe para atuar com firmeza e segurança. Normalmente, isso é negligenciado tanto na rede pública como particular”, lamentou.

Já a coordenadora do serviço de Saúde Mental de Diadema, Cibele de Toledo Neder, apontou o modelo de atendimento do Lacan como responsável pelos casos de violência. “Neste local usa-se a internação compulsória, quando o usuário é levado mesmo contra sua vontade. O hospital acaba se transformando uma espécie de cadeia, o que estimula agressões e rebeliões”, afirmou.

No modelo dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), não há atendimento sem autorização do dependente. “Fazemos um trabalho de abordagem e resgate da vida social, conscientizando sobre o uso das drogas e suas consequências. Por isso não temos casos de agressões nestes centros”, destacou Cibele.

Para sindicato, diretoria peca por omissão

O presidente do SindSaúde ABC (Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Privados de Saúde e Empresas que Prestam Serviços de Saúde e Atividades Afins do ABCDMRP), Valdir Tadeu David, informou que os funcionários do Hospital Lacan tentaram negociar com a diretoria, mas não houve resposta aos pedidos. “Os episódios de violência foram levados ao conhecimento da direção, mas nada é feito.”

Cerca de 100 funcionários, divididos em quatro turnos, trabalham no Hospital Lacan, que integra o Grupo Saúde Bandeirantes, instituição filantrópica de utilidade pública federal, estadual e municipal fundada em maio de 1975 e qualificada como Organização Social pelo governo do Estado de São Paulo. Procurado, o Grupo Saúde Bandeirantes não se manifestou sobre as denúncias dos funcionários.

Serviços - A instituição oferece serviços de internação para pacientes com dependência química, alcoolismo e transtornos mentais, tais como depressão, psicose, ansiedades, entre outras patologias. Também há atendimento ambulatorial, com consultas agendadas com psiquiatras e psicólogos.

Desde março de 2009 o Hospital Lacan conta com uma clínica pública para adultos dependentes químicos, com 30 leitos. Em abril deste ano, o governador Geraldo Alckmin inaugurou no Hospital Lacan o primeiro serviço especializado em tratamento de gestantes com dependência química do Estado.


Uma fortaleza contra o crack



Num casarão em forma de castelo, uma ONG ajuda moradores de rua e dependentes químicos a aprender um ofício e a reencontrar o rumo

Maria Eulina é uma das assistidas pelo Clube de Mães. A ONG oferece alimentação e oficinas técnicas a moradores de rua 

Boaventura tinha fome. Aos 17 anos, o rapaz saíra da casa dos pais, em Mato Grosso, e fora para são Paulo morar com uma tia. O plano inicial, completar o ensino médio e trabalhar, logo foi abandonado. "Minha família achava que eu estava estudando, mas passava o dia usando droga e me prostituindo", diz. Viciou-se em crack e morou nas ruas por três anos. Um dia, descobriu que serviam comida num casarão em formato de castelo, na Rua Apa, no centro de são Paulo. O Clube de mães chega a reunir 100 pessoas nos almoços de sábado. São moradores de rua, a maioria vinda da área próxima apelidada de Cracolândia. Sua fundadora, Maria Eulina Hilsenbeck, recebe quem vem em busca de comida e tenta oferecer algo mais. Conversa com vários dos visitantes e encaminha os interessados a albergues. Alguns passam a participar das oficinas promovidas pela ONG durante a semana.
Faz cinco anos que Boaventura entrou no almoço que, provavelmente, salvou sua vida. "Viciado em crack não quer nada com nada, mas a Maria Eulina me deixou entrar mesmo assim", diz. Eulina não se imagina agindo de outra forma. Ela criou o Clube em 1993, com a proposta de orientar as mães de áreas pobres e violentas. Logo passou a oferecer refeições grátis e cursos baratos aos interessados. Em 2009, a ONG foi obrigada a se reinventar, diante do avanço devastador do crack.
Eulina percebeu o poder destrutivo da nova droga desde o final dos anos 1990. Em 2005, a secretaria Nacional de Políticas Contra Drogas calculava que 1,29 milhão de pessoas já a experimentaram. "Vi crianças acendendo um cachimbo de crack na minha esquina", afirma Eulina. "Não podia deixar de me envolver, nem que fosse para salvar um ou dois."
O índice de sucesso na recuperação desses dependentes é baixo. O tratamento pede recursos, equipes multidisciplinares e atuação em rede de vários tipos de instituições, diz a psiquiatra Ana Cecilia Marques, da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead). A síndrome de abstinência, se mal diagnosticada, pode causar demência. Entre os desafios antigos e graves com que já lidava - alcoolismo, abandono, falta de expectativas - e o novo, Eulina escolheu enfrentar o mais difícil. "O dependente de álcool, em alguns momentos, recobra a razão. O crack não dá trégua", diz.
Há três anos, o Clube passou a se dedicar apenas a moradores de rua. Fechou os demais cursos, pagos, e manteve apenas oficinas gratuitas para esse grupo, como as de costura. Elas resultam em sacolas, bolsas e brindes, feitos com material reciclado e vendido a empresas. McDonald’s e Pão de Açúcar estão entre os parceiros eventuais. A ONG conta com dois funcionários e dois voluntários, além de Eulina. Não tem condições de lidar com casos mais graves. Os que pedem são encaminhados para tratamento. Eulina calcula que, desde 2002, o Clube tenha ajudado 2 mil pessoas a deixar drogas variadas.
Deixar de ministrar cursos pagos teve consequências. O Clube deve R$ 48 mil. Eulina não se arrepende da decisão e considera o trabalho na ONG uma extensão de sua própria história. Ela nasceu no maranhão e foi para são Paulo aos 20 anos. Viveu dois anos nas ruas. Às vezes, escondia-se no Castelinho. O lugar estava abandonado desde 1937. Um dia, uma desconhecida ofereceu abrigo e emprego de assistente. No trabalho, Eulina conheceu o futuro marido, que a ajudou a reorganizar a vida. Ela decidiu ajudar quem precisava. O governo estadual admitiu a ONG no Castelinho em 1996.
Inquieta, Eulina se prepara para um novo desafio. Desde 1o de agosto, 20 pessoas que participaram das oficinas do Clube assumiram a coleta seletiva do mercado municipal Paulistano, o mercadão. A renda com as vendas será dividida entre os trabalhadores. A administração do mercado se encantou com o projeto. "Nos sete anos em que trabalho aqui, o Clube foi a única ONG que não me pediu mais nada - só trabalho", diz o supervisor de abastecimento José Roberto Graziani.
Boaventura, que chegou ao Clube em 2007 atrás de comida, participou das oficinas por sete meses. Foi encaminhado para tratamento. Tornou-se atendente na clínica de reabilitação e se matriculou num curso superior. Ele se mantém em tratamento até hoje. Eulina se lembra dele com orgulho: "Fico muito feliz de ver a vida deles decolando".