sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Renda e drogas estão em alta



Polícia flagra maior circulação de LSD, ecstasy e outras substâncias caras

Quanto mais conhecido na balada, mais fácil fica encontrar o caminho para a "vibe (vibração)perfeita". Mas, além da influência, também é preciso ter dinheirono bolso: R$ 50 é o valor mínimo que se paga por uma noite de alucinações e sensações de euforia. E não falta por aí quem queira comprar o prazer em forma de remédio. Com o aumento da renda do mineiro, cresce também o consumo de substâncias entorpecentes mais caras, como o ecstasy, o LSD e outras drogas sintéticas.

Dados da Polícia Federal (PF) mostram que, no ano passado, foram apreendidos 92.883 comprimidos de ecstasy no Estado, número 135,7 vezes superior ao retido pela corporação em 2010 (684 unidades). A presença do LSD também se multiplicou nos flagrantes da PF, passando de 2.370 micropontos (pequenos quadrados com cerca de seis milímetros) encontrados em 2010 para 24.860 em 2011, o equivalente a dez vezes mais.

"O aumento se deve ao número maior tanto de operações da polícia como de uso por parte da população, que está investindo mais nas drogas caras", afirma o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF, João Geraldo. O balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF) 
também mostra crescimento de apreensões de LSD, ecstasy e outras drogas sintéticas. 

Em 2011, 322 unidades desse tipo de substância foram parar nos depósitos da corporação, contra 36 em 2010. Em contrapartida, os flagrantes de cocaína e crack, que têm menor preço, tiveram queda (veja quadro abaixo).

Para o presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), Joaquim Melo, há uma tendência das classes média e alta em trocar a cocaína e o crack pelas drogas sintéticas. "Elas vêm da Europa e estão na moda. Não digo que já viraram uma epidemia, mas, se continuar no ritmo que estão, vão virar", declara Melo.

O delegado João Geraldo explica que há um status envolvendo as drogas sintéticas. "É muito mais fácil dizer que está usando ecstasy do que cocaína, que parece mais viciante", diz Geraldo. No entanto, a psiquiatra e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ana Cecilia Roselli Marques afirma que o impacto do ecstasy é mais devastador do que o da cocaína. "Ele é derivado da anfetamina, que destrói os neurônios", explica. O LSD, segundo ela, também causa dependência, e seus efeitos ainda são pouco estudados.

Os malefícios, porém, não impedem o publicitário Renato (nome fictício), 29, de usar o ecstasy a cada 15 dias. "Costumo comprar três comprimidos na balada, mais um alucinógeno. Gasto cerca de R$ 300 por noite, mas vale a pena, a vibe é perfeita".

Consumo vai além das raves e atinge eventos de axé e de sertanejo

Com o aumento da procura pelas drogas sintéticas, o consumo não está apenas restrito a raves, como são chamadas as longas festas de música eletrônica. Segundo o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, João Geraldo, o ecstasy e o LSD já chegaram também aos eventos que tocam músicas sertaneja e axé. 

"Os produtos ainda são comuns em festas privadas. Do jeito que está, é possível prever uma epidemia de ecstasy no Brasil, assim como estamos vendo com o crack", afirma o delegado. Um estudo feito pelo Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid) revela que a idade média para se começar a usar ecstasy é de 20,5 anos, e o LSD, 19,5. 

O publicitário Renato (nome fictício), 29, conta que experimentou o ecstasy pela primeira vez há dois anos, na balada de música eletrônica que frequentava. "Eu já tinha ouvido falar dos efeitos e procurei quem vendesse. Não foi difícil, mas é preciso ter bastantes contatos", relata. Ele diz que gosta de usá-lo com um alucinógeno para dar uma "vibe" melhor. "Só não misturo com álcool para manter o controle. Chego a ficar 24 horas fritando (ligado)". (LC)





quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Estudo aponta origens do vício


Cresce em consultórios e clínicas número de dependentes de drogas, álcool, sexo, comida e outros males.
Na Paraíba, 435.988 pessoas (11,5% da população) são viciadas em tabaco. O álcool faz o segundo maior número de dependentes no Estado, com uma média de 376 mil viciados. As drogas ilícitas já escravizam milhares de paraibanos: crack (111 mil pessoas) maconha (112 mil) e cocaína (75.330). Além disso, cresce nos consultórios e clínicas o número de pessoas procurando ajuda porque não conseguem mais parar de trabalhar, comer, comprar, fazer sexo, se exercitar ou navegar na Internet. Ainda existe a ‘dependência cruzada’, quando uma pessoa
tem dois ou mais vícios ao mesmo tempo. Especialistas alertam que tudo começa com uma sensação de prazer ou de preenchimento de um vazio e vira doença.
Por que as pessoas se viciam? Pesquisas e estudiosos dizem que qualquer ser humano é um alvo em potencial do mal. A chave pode estar na genética (risco é de 30%), na mente (30%), no meio social (30%) e até na falta de religiosidade (10%), de acordo com a psiquiatra e conselheira da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), Ana Cecília Roselli. E há cura? “Não, mas o tratamento adequado pode levar o indivíduo a controlar sua doença e à remissão total”, afirma Ana Cecília.
A psiquiatra explica que o tratamento pode ser feito com medicamentos (antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina) e com outros métodos, como grupos de ajuda, clínicas de reabilitação e terapias espirituais. “Independente do método, o tratamento é baseado na desintoxicação, prevenção de recaídas, tratamento das complicações, tratamento da família e manutenção da abstinência”, esclareceu.
Disponível em: http://www.abead.com.br/imgs/file/Correio_da_Paraiba.pdf

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Uso da maconha começa cada vez mais cedo no Brasil


Em 2012, 62% dos usuários experimentaram a droga antes dos 18 anos; em 2006, o índice era de 40%.

SÃO PAULO, Brasil – Ele deu o primeiro trago em 2001, quando tinha 16 anos.
Desde então, por seis anos, o comunicador Vinícius Werner, 27, fumou maconha todos os dias. Em todo o Brasil, 1,5 milhão de adolescentes e adultos também usam o entorpecente diariamente.

Como Werner, 62% dos usuários brasileiros tiveram contato com maconha antes de completar 18 anos, de acordo com o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

E a tendência é de alta. Em 2006, quando foi realizado o primeiro estudo, o índice era de 40%, segundo a Unifesp.

“Quanto mais cedo ocorre o consumo da droga, maior é a chance do desenvolvimento de dependência”, explica a psiquiatra Clarice Sandi Madruga, coordenadora do levantamento.

Realizado em 149 municípios, o estudo ouviu 4.607 pessoas a partir dos 14 anos que responderam a um questionário sigiloso com mais de 800 perguntas sobre o uso de álcool e drogas.

Cerca de 8 milhões de brasileiros – 7% da população adulta – já experimentaram maconha ao menos uma vez na vida. Desse total, 3,4 milhões de pessoas (3%) utilizaram o narcótico no último ano.

Entre os menores de idade, mais de 600.000 já tiveram algum contato com o entorpecente ao longo da vida – 470.000 deles nos últimos 12 meses.

Tanto adultos quanto adolescentes têm acesso à droga comprando de alguém (60% dos casos) ou ganhando de algum amigo (35%). A diferença é que, enquanto os adultos conseguem maconha em locais públicos e pontos de venda, os menores de idade têm outro ponto de distribuição: a escola.

Efeitos da dependência

O Brasil não está entre os três maiores consumidores de maconha do mundo, segundo o levantamento da Unifesp. O percentual de indivíduos que utilizaram a droga no último ano chega a 14% no Canadá, 13% na Nova Zelândia, 10% nos Estados Unidos e no Reino Unido e 7% no Chile, na Argentina e no Brasil.

Mas a taxa de dependência entre os brasileiros se equipara à de outros países: 37% dos adultos que usam maconha são viciados – cerca de 1,3 milhão de pessoas, segundo o estudo da Unifesp.

Entre os fatores que indicam vício, estão a ansiedade pela falta da droga e a sensação de falta de controle.

A toxicomania é menor entre os adolescentes (menos de 10% entre usuários), mas é extremamente nociva à saúde desse grupo, já que a substância causa alterações irreversíveis no cérebro ainda em desenvolvimento, explica Clarice.

“O cérebro só termina de amadurecer perto dos 25 anos, por isso o uso de maconha antes disso aumenta as chances de desenvolvimento de outras doenças psiquiátricas, como depressão e transtornos de ansiedade”, completa Clarice.

O consumo precoce da maconha age sobre o sistema nervoso central diminuindo a atenção, a concentração, a memória e a capacidade de resolver conflitos, segundo a psiquiatra e neurocientista Ana Cecilia Marques, coordenadora do Departamento de Dependência em Álcool e Drogas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

“Estudos apontam que a taxa de dependência entre jovens que consomem álcool aos 16 anos varia de 6% a 8%. Se começaram aos 12 anos, o índice sobe para 10% a 12%”, aponta Ana Cecilia, ao lembrar que não há um estudo mais aprofundado sobre o uso precoce da maconha. “Esse percentual também é esperado para outras drogas, pois elas afetam o sistema límbico, que é o mesmo prejudicado pelo álcool.”

Como consequência do consumo precoce de entorpecentes, o usuário pode ter dificuldades para estudar, trabalhar e se relacionar com outras pessoas. Esses danos podem levar a depressão, ansiedade, além do desenvolvimento de esquizofrenia e outras neuroses, de acordo com Ana Cecilia.

Flexibilização

No Brasil, qualquer tipo de acesso à maconha é proibido: desde o uso medicinal até o cultivo para consumo próprio e a compra e venda da droga.

Nos últimos anos, porém, o debate sobre a possibilidade de descriminalizar ou legalizar a droga ganhou força. O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso é uma das personalidades que tem se manifestado a favor da mudança na legislação.

Em 2012, mais de 200 cidades sediaram a Marcha da Maconha, uma passeata realizada por defensores da regulamentação da erva.

“Estamos falando do fato de a proibição trazer muitíssimos problemas e não controlar o consumo de forma alguma, nem entre os adolescentes”, defende Alexandre de Castro, um dos organizadores da Marcha da Maconha em Belo Horizonte (MG).

Ainda assim, apenas 11% das pessoas entrevistadas no levantamento da Unifesp são favoráveis à legalização da maconha, enquanto 75% são contra.

“É muito difícil predizer como seria essa flexibilização num país como o Brasil, pois é complicado usar países pequenos como base para esta decisão", comenta Clarice. "Além do mais, é importante lembrar que o projeto de lei que está em votação é para todas as substâncias psicotrópicas e não só a maconha.”

A psquiatra lembra ainda que o aumento da disponibilidade de qualquer droga eleva seu consumo e que menos de 20% dos viciados procuram tratamento médico.
“Independente da discussão da lei, é inquestionável a necessidade de mais centros de atenção primária, principalmente de CAPS-AD (Centros de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas)”, defende Clarice.

Para Ana Cecilia, antes de discutir legalização de outras drogas, o governo deve garantir que menores não tenham acesso a entorpecentes hoje considerados legais.

“Eu só acredito em uma coisa: uma política que proteja a criança e o adolescente de drogas inclusive legais, como o álcool e o tabaco, que também são proibidas para menores de 18 anos”, afirma Ana Cecilia.

Disponível em: http://infosurhoy.com/cocoon/saii/xhtml/pt/features/saii/features/main/2012/11/07/feature-02