quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Beber para esquecer é mito. Álcool reforça memórias ruins, diz estudo

Quando os problemas apertam, há quem recorra a uma boa dose de bebida alcoólica para tentar esquecê-los. Mas, segundo um estudo feito por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, o efeito é um pouco diferente. O consumo de álcool, na verdade, reforçaria as memórias negativas.
No estudo, dividiram ratos de laboratório em dois grupos. Um bebeu água por duas horas e o outro, grande quantidade de álcool. Depois, todos foram submetidos a um som específico seguido de descarga elétrica. No dia seguinte, os animais ouviram o mesmo barulho, mas sem o choque. Os que tinham ingerido álcool demonstraram lembrar mais do choque do que os outros.
Para a coordenadora da Comissão de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria, Ana Cecília Marques, o estudo deve ser feito em humanos para resultados mais precisos. Por enquanto, o que é certo, diz ela, é que, na primeira fase da bebedeira, o álcool pode resgatar memórias antigas, não necessariamente as vividas enquanto se bebe.
— Dependendo da dose, memórias mais intensas, boas ou ruins, podem ser desencadeadas por conta da liberação de dopamina, que estimula a acetilcolina (hormônio da memória) no sistema límbico (responsável pelas emoções) — explica.
Ela fala ainda como o álcool age naqueles que bebem para amenizar alguma dor:
— A dopamina traz a sensação de relaxamento e a pessoa não fica presa ao mal estar que vive. Mas com o fim do efeito do álcool, tem que enfrentar a realidade como ela é.
Afogar mágoas e não parar de falar sobre elas
Se quando se começa a beber a tendência é lembrar de coisas não tão boas, após algumas doses a mais, a sensação é de relaxamento mental.
— Após duas a três latas de cerveja, passa a se abolir a atenção, o reflexo, a capacidade de tomar decisões — conclui Ana Cecília.
O neurologista André Gustavo Lima afirma que o estudo da universidade americana pode trazer respostas químicas para um comportamento já conhecido: falar sem parar.
— Quem bebe fica desinibido, então, fala mais ainda do que o incomoda. O álcool ocupa receptores de glutamato do lobo frontal (responsável pelo planejamento de ações e movimento, bem como o pensamento abstrato) o que causa essa desinibição — diz o membro da Academia Brasileira de Neurologia.
Sinais de ressaca
Dor de cabeça
O álcool causa a dilatação dos vasos sanguíneos do cérebro, provocando o incômodo. Mas evite tomar medicação que tenha paracetamol. Elas sobrecarregam o fígado.
Sede e boca seca
São sinais de que o corpo está desidratado. Tome bastante líquido, como água, sucos, e isotônicos. Não entre na onda de tomar mais uma. Isso só intoxica mais o corpo.
Enjoos e náuseas
A bebida ataca o aparelho digestivo, aumenta a produção de suco gástrico e de secreções intestinais, podendo causar gastrite e vômito. Por isso, alimente-se de forma leve.
Sonolência
O álcool desregula a produção de glutamina, um estimulante natural do organismo. Isso agita o cérebro e dificulta o sono. Para se recuperar, descanse.
Não fume
Quanto mais nicotina, menos oxigênio no sangue, o que apressa e facilita a intoxicação pela bebida alcoólica.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

SEM AÇÕES INTEGRADAS, COMBATE AO CRACK FALHA

Nas praças, debaixo de viadutos ou em cantos das sete cidades, é comum ver pessoas em situação de rua consumindo crack. O cenário, cada vez mais preocupante, evidencia políticas públicas pouco efetivas voltadas à recuperação desse grupo.

Embora relatório divulgado nesta semana pela OSF (Open Society Foundations) mostre que projetos como o programa De Braços Abertos, da Capital, e exemplos semelhantes no Rio de Janeiro e em Pernambuco, – que não exigem abstinência dos usuários de drogas como pré-condição para serem incluídos nos programas de assistência e oferecem moradia, treinamento e oportunidade de retorno ao mercado de trabalho –, sejam o caminho tido como eficaz para a reinserção dos usuários na sociedade, nenhuma das sete cidades mantém ações estruturadas do tipo ou manifestaram que planejam avançar no tema.

Basicamente, na região, o assunto é tratado de forma isolada pelas equipes de Saúde mental via rede de atenção psicossocial. Com exceção de Santo André, nenhuma administração destacou ter o problema mapeado.

Para o integrante do Movimento Nacional de Direitos Humanos Ariel de Castro Alves, falta integração da área de Saúde pública com os setores de Educação, Habitação, trabalho e assistência social. “Os programas, para terem êxito, precisam ser multidisciplinares e intersetoriais”, fala.

A psiquiatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenadora da comissão de dependência química da Associação Brasileira de Psiquiatria, Ana Cecília Petta Marques, compartilha do argumento. “Medidas restritas a uma parte só da política pública não funcionam. Elas precisam ser articuladas.”

Para o psiquiatra e diretor do Inpad (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas) Ronaldo Laranjeira, falta combate à proliferação do tráfico nas ruas. “Se o setor de Segurança não tiver estratégia, vamos continuar tendo cracolândias.”

COMO FUNCIONA

Em Santo André, onde o número de dependentes em situação de rua varia entre 100 e 125 pessoas, a Prefeitura diz que projeto em fase de elaboração visa dar oportunidade de emprego, já que muitas vezes a pessoa é retirada da rua e, se não tem encaminhamento, volta para o lugar de uso.

Ribeirão Pires, que atende na rede de Saúde 560 pacientes usuários de crack, ressalta que dispõe de oficinas geradoras de renda, para estimulá-los a desenvolver o autossustento.
Mauá diz que não atua com a classificação sobre qual tipo de droga levou o paciente ao tratamento e contabiliza 1.564 pacientes atendidos no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas).

As demais cidades não informaram suas ações.