É o que afirmam especialistas sobre
funcionários do Hospital Lacan, em São Bernardo, que sofrem ataques e ameaças
de pacientes
Protesto em frente ao Lacan, onde uma funcionária já foi ameaçada de morte. Foto: Amanda Perobelli |
Especialistas em atendimento a dependentes químicos revelaram
que os casos de agressão e ameaças infringidas a funcionários da ala destinada
ao tratamento de dependentes químicos do Hospital Lacan, localizado em São
Bernardo, podem estar ligados a falhas no treinamento do corpo de enfermagem.
No último dia 21 de agosto, um grupo do corpo de enfermagem denunciou episódios
de violência.
Desde o início do mês, cinco técnicos de enfermagem foram
agredidos e ameaçados por internados. O último caso ocorreu no dia 17, quando
uma trabalhadora foi ameaçada de morte com uma arma branca, fabricada por um
interno. No caso mais grave, ocorrido em 2 de agosto, quatro funcionários foram
amarrados, amordaçados, espancados e roubados por pacientes que fugiram em
seguida.
De acordo com os funcionários ouvidos pela reportagem – que não
quiseram revelar as identidades por temerem represálias da direção do hospital
–, as ameaças são constantes. “Não temos segurança para trabalhar, vivemos com
medo”, afirmou uma técnica de enfermagem. A reivindicação é de que a segurança
seja reforçada na unidade. Atualmente, apenas seguranças patrimoniais atuam no
hospital.
A Associação Brasileira de Psiquiatria informou que não existe
legislação específica que preveja seguranças dentro de clínicas e hospitais
psiquiátricos. Para Ana Cecília Petta Roselli Marques, psiquiatra, professora
da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e conselheira consultiva da
Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas), casos como
os relatados no Hospital Lacan não são comuns nos centros de tratamento de
dependentes químicos.
Jeito - “Os pacientes podem
ficar agressivos durante as crises de abstinência e o corpo clínico deve conter
o indivíduo física ou mecanicamente (com o uso de camisas de força). Depois é
aplicado o medicamento e normalmente o paciente se acalma. Não há necessidade
de seguranças dentro do hospital ou clínica para isso”, relatou.
Ana Cecília reforçou que uma equipe bem treinada e entrosada
consegue notar as mudanças no comportamento dos pacientes, evitando situações
perigosas e agindo com tranquilidade. No entanto, a agressividade demonstrada
no caso do Lacan chamou a atenção da psiquiatra, com 30 anos de experiência na
área. “Em toda minha carreira nunca vi esse tipo de situação. É preciso checar
o diagnóstico destes pacientes, que parecem sofrer de transtorno de conduta.
Nestes casos, esse tipo de hospital não é o ideal para a internação”, comentou.
Psicólogo afirma que violência é comum
O psicólogo Marcos Levi Gonçalves Mello, que também acumula 30
anos em atendimento a dependentes de drogas e álcool e já trabalhou no Lacan,
afirmou que casos de violência por parte dos pacientes não são incomuns. “Isso
pode acontecer, mas o ponto crucial é treinar permanentemente a equipe para
atuar com firmeza e segurança. Normalmente, isso é negligenciado tanto na rede
pública como particular”, lamentou.
Já a coordenadora do serviço de Saúde Mental de Diadema, Cibele
de Toledo Neder, apontou o modelo de atendimento do Lacan como responsável
pelos casos de violência. “Neste local usa-se a internação compulsória, quando
o usuário é levado mesmo contra sua vontade. O hospital acaba se transformando
uma espécie de cadeia, o que estimula agressões e rebeliões”, afirmou.
No modelo dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), não há
atendimento sem autorização do dependente. “Fazemos um trabalho de abordagem e
resgate da vida social, conscientizando sobre o uso das drogas e suas
consequências. Por isso não temos casos de agressões nestes centros”, destacou
Cibele.
Para sindicato, diretoria peca por omissão
O presidente do SindSaúde ABC (Sindicato dos Empregados em
Estabelecimentos Privados de Saúde e Empresas que Prestam Serviços de Saúde e
Atividades Afins do ABCDMRP), Valdir Tadeu David, informou que os funcionários
do Hospital Lacan tentaram negociar com a diretoria, mas não houve resposta aos
pedidos. “Os episódios de violência foram levados ao conhecimento da direção,
mas nada é feito.”
Cerca de 100 funcionários, divididos em quatro turnos, trabalham
no Hospital Lacan, que integra o Grupo Saúde Bandeirantes, instituição
filantrópica de utilidade pública federal, estadual e municipal fundada em maio
de 1975 e qualificada como Organização Social pelo governo do Estado de São
Paulo. Procurado, o Grupo Saúde Bandeirantes não se manifestou sobre as
denúncias dos funcionários.
Serviços - A instituição oferece
serviços de internação para pacientes com dependência química, alcoolismo e
transtornos mentais, tais como depressão, psicose, ansiedades, entre outras
patologias. Também há atendimento ambulatorial, com consultas agendadas com
psiquiatras e psicólogos.
Desde março de 2009 o Hospital Lacan conta com uma clínica
pública para adultos dependentes químicos, com 30 leitos. Em abril deste ano, o
governador Geraldo Alckmin inaugurou no Hospital Lacan o primeiro serviço
especializado em tratamento de gestantes com dependência química do Estado.
Disponível
em: http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=43892
Nenhum comentário:
Postar um comentário