A Prefeitura de São Paulo
vai excluir de seu programa para a região da cracolândia os usuários de droga
que não estão trabalhando. A Folha apurou que mais da metade dos
beneficiários não cumpre a jornada diária de tarefas como varrição e
jardinagem.
Lançado em janeiro deste ano
pelo prefeito Fernando Haddad (PT), o programa, chamado Braços Abertos, dá R$
15 por dia de trabalho a 429 usuários da região.
Eles também recebem
hospedagem em quartos de hotel, alimentação e tratamento médico e psicológico.
Na semana passada, a gestão
municipal instalou na região um "cercadinho" de barras de ferro. De
acordo com Haddad, a medida era um pedido dos próprios usuários. Eles negaram e
retiraram o aparato do local.
O desligamento de usuários
está previsto para começar nas próximas semanas e abrirá vagas para a inclusão
de novos beneficiários. Na primeira leva, segundo a reportagem apurou, deverá
ir embora um grupo de 30.
Os casos dos demais que não
estão trabalhando serão analisados. Eles devem integrar as próximas levas de
descredenciamento.
Não serão afetadas pessoas
com baixa frequência no trabalho, mas em tratamento médico ou acompanhadas por
assistente social. Quem for desligado terá que deixar o quarto onde se hospeda.
O usuário será informado com
antecedência e, se quiser, será encaminhado para outro projeto assistencial.
Quem não tiver para onde ir poderá ficar em albergues.
O beneficiário que receber o
alerta da exclusão poderá ter uma segunda chance, desde que se comprometa a
voltar ao trabalho.
O dado da prefeitura é que
111 pessoas das 429 cadastradas não têm trabalhado. No entanto, a reportagem
apurou com colaboradores do programa e dependentes que o problema atinge mais
da metade dos beneficiários.
Para a psiquiatra Ana
Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e
outras Drogas, é um erro esperar que todos os usuários trabalhem. "Alguns
não dão conta, porque vão ter recaídas, vão passar mal e não conseguem."
Para ela, os dependentes em
estágio mais grave deveriam passar por tratamento de saúde antes de trabalhar.
O Braços Abertos substituiu
parceria entre o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o ex-prefeito Gilberto
Kassab (PSD) na cracolândia.
Em 2012, operação policial
de combate ao tráfico impediu usuários de se concentrar na região. Eles
acabaram voltando à área posteriormente.
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