O polegar e o indicador
da mão esquerda amarelados revelam a dependência de Roberto, nome fictício que
será usado nesta reportagem para preservar a identidade do usuário de crack.
Ele tem 36 anos e vive há mais de dez nas ruas de Santos. Ele e sua
companheira, que também é moradora de rua e usa a mesma droga, saíam da Seção Núcleo
de Atenção ao Toxicodependente (Senat), na Encruzilhada, quando relataram sua
rotina a A
Tribuna:
há alguns meses o casal vai à unidade para se tratar contra o vício. Apesar do
aparente esforço, Roberto diz que os dois não conseguem se manter limpos aos fins de semana,
quando o Senat está fechado. “Sábado e domingo a gente guarda carro e usa o
dinheiro (que ganha) para comprar crack”. O Senat também não funciona à noite,
quando Roberto e a companheira voltam para a marquise na esquina das ruas Silva
Jardim com a Xavier Pinheiro. A presidente do Conselho Municipal de Políticas
sobre Drogas (Comad), Maria Tereza Spagna Louzano, reconhece que o atendimento
ao dependente químico em Santos precisa melhorar. Diz que a entidade tem
trabalhado em conjunto com a Prefeitura. Ela acredita que casos como o de
Roberto serão mais assistidos com a inauguração do Centro de Atenção
Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps AD) na Zona Noroeste. “Ele (Caps AD) já
está pronto, mas a Prefeitura informou que por problema de Recursos Humanos
ainda não inaugurou. A expectativa é que isso aconteça até julho”.
AVANÇAR
A psiquiatra e professora
da Unifesp, Ana Cecília Marques, afirma que os modelos de tratamento aos
dependentes químicos em todo o País precisam avançar. De acordo com ela, há a
necessidade de uma ação conjunta, que comece na Atenção Básica de Saúde. “Temos
que evitar que esses dependentes de álcool e drogas cheguem na rua, porque quem
está na rua, está no fim da linha”, diz ela, que também é coordenadora do
conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras
Drogas (Abead).
ATENÇÃO BÁSICA
Para ela, o primeiro
passo é identificar a dependência química ainda na Atenção Básica
de Saúde. “Na hora que o
paciente entra na unidade de Saúde, do mesmo jeito que ele mede a pressão, é só
perguntar se ele fuma, bebe, ou usa droga”. Segundo Ana, esse é um procedimento
ignorado em todo o Brasil, até pelos agentes comunitários de Saúde, em cuja ficha
de trabalho há um espaço para preencher essa informação. Detectar a dependência
precocemente, significa impedir que ela evolua. Para saber os resultados dessas
medidas, Ana integra um grupo de pesquisa da Unifesp, que há dez anos adotou a prática
em Tarumã, cidade com 12 mil habitantes no Centro Oeste do Estado. Agora o
projeto entra na etapa de avaliar resultados.
IMEDIATO
Ana Cecília acredita que esse
cuidado na Atenção Básica produza resultados
a longo prazo. De
imediato defende uma coalizão que envolva toda a comunidade e não deixe apenas
nas mãos da escola o assunto. “A prevenção na família deve ser urgente. Tem que
ser uma prevenção universal, cuidando do adolescente e da criança, dando o exemplo,
mudando o comportamento”, finaliza.
fonte: www.atribuna.com.br
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