sexta-feira, 1 de abril de 2011

Bares restringem “double drink”

O cerco ao consumo excessivo de bebida alcoólica ganhou um reforço inesperado em Curitiba. A Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) lançou ações entre os associados para reduzir o incentivo ao consumo de álcool nos estabelecimentos da cidade. A medida foi bem aceita pelos empresários porque dá fim à concorrência desleal.
De acordo com o presidente da Abrabar, Fábio Aguayo, a associação decidiu criar medidas para fortalecer sua responsabilidade social diante dos problemas decorrentes do consumo excessivo de álcool. “Existem ideias proibitivas ao álcool, mas é preciso ter bom senso. Por isso, defendemos o não incentivo”, afirma.
Desde 1.º de março, a medida da Abrabar sugeriu aos estabelecimentos que tenham um único dia, entre domingo e quarta-feira, para colocar em prática as promoções, e que isso não seja feito de quinta a sábado. Além disso, a recomendação também sugere que os populares “double drinks” sejam oferecidos até, no máximo, as 20 horas.“Não queremos que o álcool seja a atração principal das casas. É o ambiente, a música, a boa comida que deve atrair o cliente, não as promoções open bar ou double drink, por exemplo”, explica Aguayo.

Segundo ele, além de não estimular o consumo excessivo de álcool, a medida tem efeitos também sobre a ação predatória que algumas promoções representam. “Essa atitude de quem dá mais não é concorrência sadia. Quem faz muita promoção de bebida, ou trabalha com produto falsificado ou que não está entrando na contabilidade”. Por isso, segundo ele, a decisão foi consenso entre os empresários.

Gustavo Costa é proprietário do Bar Devassa, que desde sua inauguração, não investiu nesse tipo de oferta. “Nós conversamos com os empresários do setor e percebemos que isso já não tem influência efetiva na atração de clientes. As promoções de bebidas se tornaram tão comuns na cidade que já não são vistas como um diferencial”, diz.

Quem apostava nas promoções também não sentiu qualquer impacto ao extinguir algumas delas. “O cliente que ganha uma bebida deixa de pagar para consumir. É uma estratégia de marketing que financeiramente não é interessante para nós”, conta Giocondo Villanova Artigas Neto, um dos proprietários dos bares Santa Marta, Taj, Es Vedra e Comenda.

ANÁLISE

Ações isoladas ajudam, mas não resolvem o problema

A redução da oferta de bebidas pode contribuir para a diminuição do consumo, avalia o psicólogo Naim Akel Filho, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. “Muita gente se torna dependente da bebida por oportunidade. Essas promoções dos bares estimulam o consumo abusivo, que é o estágio anterior à dependência”, opina. Para ele, o problema é especialmente grave na atual geração de jovens. “Essa geração tem uma enorme dificuldade em controlar impulsos. Quando a bebida é oferecida de forma vista como vantajosa pelo cliente, perde-se totalmente o controle do consumo”, explica.

Conter o consumo de bebidas tem sido o alvo de muitas iniciativas. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, tramitam mais de 200 propostas para estabelecer medidas que vão desde a proibição de anúncios de bebidas e festas “open bar” à instituição de sanções para quem vender bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. Recentemente, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) protocolou projeto de lei para restringir a publicidade de cerveja em todo o Brasil.

Para a especialista em dependência química Ana Cecília Marques, que é pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do CNPq, essas ações são importantes, mas sozinhas não são capazes de afetar significativamente o consumo do álcool. “É preciso que essas ações façam parte de uma política. Medidas para reduzir o consumo associadas a campanhas na mídia e à fiscalização no trânsito, por exemplo, conseguem causar um impacto considerável”, diz.

Segundo ela, essas políticas são mais efetivas se forem pensadas de forma particular para cada lugar. “Algumas medidas funcionam em cidades pequenas, mas não em cidades grandes. Por isso, a aplicação dessas ações e leis é muito mais efetiva se for feita municipalmente”.

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