segunda-feira, 22 de julho de 2013

Misérias fora de ordem

No meio desse caminho, tinha uma pedra: o crack. De um lado, viu-se o drama dos aprisionados pela droga e dos familiares desesperados por ajuda. De outro, muita controvérsia em torno da internação forçada – vista ou como política de saúde pública ou como “limpeza urbana” dos frequentadores das cracolândias.
Diante da complexidade da questão, o Aliás conversou com dois especialistas: os psiquiatras Dartiu Xavier da Silveira e Ana Cecília Marques, ambos professores da Unifesp. Eles têm opiniões divergentes e defendem posições a partir de sua experiência de campo. Em um ponto, porém, concordam: do jeito que está, a tragédia brasileira do crack não pode mais ficar.

Comecemos pela internação compulsória para dependentes de crack: como o sr. analisa a medida?
O que se destaca negativamente, a meu ver, é esta medida ser proposta como o principal mote de uma política pública. Isso não faz sentido do ponto de vista médico. Internação compulsória deve ser uma situação de exceção, não de regra. Está até prevista em lei de 2001. Mas o governo paulista a divulgou como política pública nova, portanto generalizante. Não sou contra a internação compulsória. Sou contra a ideia da internação compulsória como uma medida generalizada. Tal tratamento funciona para apenas 2% dos pacientes internados contra a vontade. Já trabalhei na Europa e nos Estados Unidos com estudos e tratamentos para dependência química. No Brasil, fundei o Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), o primeiro serviço gratuito para dependentes em São Paulo. Atualmente atendemos 700 consultas por mês. Desde 1993, lido com dependentes de crack. E, desde 1996, com populações de rua. Assim, sei que as internações involuntárias e compulsórias são indicadas para situações muito específicas, em que o indivíduo apresenta problema mental grave associado, como a psicose com delírio e alucinação, e o risco de suicídio. Fora isso, não.

O governo paulista diz que a internação compulsória mira só a ‘exceção da exceção’.
Não tem sentido. Se é para uma pequena minoria, como pode ser anunciada como mote da ação? O mote deveria ser uma atenção global, integrada e multidisciplinar ao problema. As populações de rua são privadas de tudo que se possa imaginar. Muitos indivíduos nunca foram institucionalizados, nunca tiveram família, nunca tiveram casa. Tenho uma história emblemática para lembrar. Uma menina de 13 anos que usava crack me dizia: “Tio, nem gosto do efeito da droga, não. Mas sabe o que é? Para poder comer, preciso me prostituir. E, para ter relação sexual com um adulto, preciso me drogar, senão não suporto a dor”. E o que a gente quer fazer? Quer pegar uma menina dessas e jogar na internação compulsória? O problema dessa menina é muito maior que a droga. Há uma inversão de valores aí, um discurso sobre o crack que perverte as reais questões que estão acontecendo na cracolândia. A repressão deveria ser dirigida ao tráfico internacional, aos traficantes. E não ao menino de rua que usa crack.

Muitos criticam a ausência do Estado. Mas, agora que o Estado se posiciona, também é alvo de críticas.
Precisamos da intervenção do Estado. Mas no papel de agentes de saúde, para propiciar o cuidado necessário a essas pessoas. Não adianta dizer “vamos resolver a questão das drogas” e botar policiais na rua, em ações truculentas. Ainda hoje há uma confusão sobre as diferenças dos aspectos criminais e médicos nas questões das drogas. A própria legislação é muito ambígua para discernir quem é o usuário, quem é o traficante. E, ainda, quem é o usuário ocasional, quem é o dependente químico. Não é simples. Mas jogam todos na mesma vala. Aliás, nem todo usuário de crack é dependente. Outra ambiguidade: a confusão entre a política e a questão médica e psicológica. Agora, se o Estado se autoriza a propor internações involuntárias e compulsórias a essas populações de rua, parece-me uma medida política, midiática e higienista. Se o mote fosse realmente o cuidado do crack – e se a melhor abordagem fosse a internação involuntária/compulsória -, penso que, por uma questão de coerência, isso deveria ser estendido à Avenida Paulista, aos bairros mais nobres da cidade. Por que só na cracolândia? Porque incomoda muito ver as pessoas se drogando na rua. Se a indicação fosse médica, você também pegaria involuntariamente os mais favorecidos. O que incomoda é a visibilidade – não só da droga, mas dessas pessoas. No consultório onde atendo, recebo pacientes de classe média alta que consomem crack entre quatro paredes. Médicos, jornalistas, executivos… São exceções, mas há. Essas pessoas não têm a mesma visibilidade das pessoas de rua. Quer dizer, temos uma miséria social antes de tudo. A droga é só um elemento. A internação deve ser uma decisão médica – e, então, como defendê-la como decisão jurídica? É muito mais cara (e menos eficaz) que o trabalho ambulatorial que já realizamos.

Por quê?
Por exemplo, há uma iniciativa municipal em que uma equipe de psiquiatras faz internações involuntárias de pessoas em situação de rua. Como não tem condições de tocar esse regime de internação em hospitais públicos, recorre a hospitais particulares. Mesmo nos melhores modelos, como nos convênios com o Hospital Samaritano com o Said (Serviço de Atenção Integral ao Dependente), uma internação custa quase R$ 20 mil por mês. Há um lobby de instituições psiquiátricas, uma máfia branca interessada nesses recursos. Há muitos interesses escusos. Por isso, muitos médicos defendem a internação compulsória, pensam nos próprios interesses financeiros.

Mas não seria ingênuo esperar pela internação voluntária desses dependentes?
Ingênuo? Não. Ingênuo é não fazer nada e, na hora em que a situação se agrava, recorrer a uma medida de exceção. Essas populações de rua foram abandonadas pelo Estado. Perderam a cidadania, a moradia, a saúde. Agora, com essas novas medidas, perderam mais direitos: a liberdade individual e o direito de ir e vir. Há uma leitura equivocada nessa história. Pensam que a miséria social é uma decorrência da droga, o que não é verdade. É decorrência da omissão do Estado. A droga não é a causa, é uma das consequências. Então, a cracolândia deve ser tratada como uma questão de saúde pública, e não de segurança pública. Eu continuo trabalhando na cracolândia atualmente. Um trabalho de formiguinha, muito difícil e lento. Abordamos essas pessoas, fazemos intervenções com consultórios de rua, levamos para atendimento ambulatorial no Caps-AD (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, iniciativa municipal). Nas situações extremas, também recomendamos internação. Tudo é trabalhado a partir de uma rede assistencial. Mas, quando o governo entra com uma política intervencionista e ações policiais como a de janeiro de 2012, todo nosso trabalho é prejudicado. Perdemos a confiança que demoramos tanto para conquistar entre as populações de rua. Atitudes agressivas e repressivas só afastam essas pessoas. Então, é um retrocesso para nós. Além disso, a psiquiatria cometeu muitos abusos no passado. Sou psiquiatra, vejo isso todos os dias: hospitais abrigando usuários de drogas sem nenhuma indicação médica. É um risco grave e sério de manicomialização do tratamento. Na primeira ação na cracolândia, a de janeiro de 2012, tive a impressão de que estávamos retornando à era da psiquiatria medieval. Entramos até num questionamento ético: qual é o direito do Estado de intervir assim na vida de alguém? É uma afronta às liberdades individuais. Não se pode fazer um isolamento nos modelos das prisões. E internação compulsória é isolamento social, não tratamento. É o que vejo na prática. Se tivéssemos um aparelho constituído e um método eficaz, eu defenderia a iniciativa. Se não é assim, qual é o sentido? Em São Bernardo do Campo, um dos hospitais conveniados com o governo do Estado estava sob intervenção e investigação por maus-tratos aos pacientes. Como se pode propor uma internação involuntária em um hospital assim? E isso foi no ano passado, não na história distante da luta antimanicomial.

O dependente de crack é capaz de discernir o que é melhor para ele?
Tenho discutido muito a questão da autonomia com o pessoal da área jurídica. A perda da capacidade de autodeterminação, que configura uma situação jurídica que justifica uma internação compulsória, é exceção. A maioria das pessoas envolvidas com drogas não perdeu essa capacidade de autodeterminação – isso vale para maconha, crack, álcool, etc. O que define a dependência é a perda do controle em relação ao produto. Se o indivíduo perde o controle no consumo de álcool, ele é incapaz de responder pelos próprios atos? Não. Ele escapará da prisão se cometer um crime? Não. Quer dizer, a perda de controle vale apenas para aquele ato. Mas dizer que esse indivíduo perdeu a noção de identidade e o julgamento entre certo e errado? Não. Qual é o limite? A capacidade de fazer o julgamento da realidade. Perdendo isso, entramos na psicose. A maioria dos dependentes de crack pode estar consumindo compulsivamente a droga e pode estar desesperada a ponto de roubar para poder comprar mais, mas não perdeu a capacidade de diferenciar o certo do errado. Quer entrar com medidas jurídicas? Sim, mas medidas voltadas para os delitos – o roubo, por exemplo. E roubo não é doença mental, é crime.

O governador Geraldo Alckmin se disse surpreso com o número de internações nos primeiros dias, prometendo mais investimentos. Foi realmente surpreendente?
É difícil saber. Mas é até natural um movimento dessa ordem, pois a repercussão na mídia desperta uma procura maior. E a maioria das pessoas ainda não entendeu a medida, não tem uma visão crítica sobre as questões polêmicas, principalmente sobre a baixa eficácia desse modelo de tratamento.

Qual o modelo mais eficaz para tratar dependentes de crack?
O modelo ambulatorial, com equipes multidisciplinares. Sei que é difícil trabalhar com ele. É muito mais simples “decretar” a internação. Mesmo nesse modelo ambulatorial, que considero mais sustentável, os resultados não são fáceis. A maioria das ações ali não tem recursos públicos. A quantia que o governo apostou nas internações compulsórias (R$ 250 milhões)… Nunca foi investido nada parecido nas nossas ações. Nos consultórios de rua, por exemplo, temos ONGs e voluntários, pois não há investimento público consistente. E considere também que os Caps-AD são iniciativas da Prefeitura com respaldo do governo federal – e são as formas preconizadas pelo Ministério da Saúde como a forma privilegiada para tratamento de dependência química. E embora conte com profissionais muito competentes, o Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas, iniciativa estadual) tem uma postura diferente, numa linha do antigo modelo americano, mais restritivo e repressivo. O Caps-AD trabalha numa linha mais europeia, que privilegia o acolhimento. Por exemplo: não temos uma visão apriorística, não dizemos “vamos acabar com as drogas agora”. Mas vamos ouvir essas populações para descobrir como podemos ajudar. Não é à toa que os Estados Unidos estão mudando de modelo: eles constataram que a famosa guerra contra as drogas já foi perdida. Precisamos pensar em alternativas. Agora, se os Estados Unidos, com os recursos que têm para investir em saúde, já notaram isso, por que nós ainda estamos batendo nessa tecla? Devemos priorizar intervenções mais humanizadas. Precisamos proporcionar acolhimento, não segregacionismo.

A proposta da ‘oferta controlada de drogas’ daria certo no Brasil?
Conheço algumas experiências de uso controlado – nos Estados Unidos e no Canadá, além de países europeus como Espanha, Holanda e Suíça. Funciona, mas para uma parcela específica dos pacientes: usuários crônicos de longa data, que já tentaram os outros modelos de tratamento, sem sucesso. Na esfera da redução de danos, são medidas válidas, a partir da seguinte constatação: nos modelos de tratamento tradicionais ancorados na abstinência, como preconizam Ana Cecília (Marques) e outros, as melhores taxas de eficácia do mundo não passam de 35%, 40%. Quer dizer, mesmo com os melhores recursos não conseguimos ajudar nem metade das pessoas. O que fazer com os 60%, 65% restantes que não mantêm a abstinência? Eles dizem: olha, o dependente não parou, foi um insucesso terapêutico, entra na estatística e acabou. Não se faz mais nada. Na minha perspectiva, as pessoas que não respondem ao tratamento e não ficam abstinentes devem receber outras estratégias para diminuir danos. As propostas de uso controlado fazem parte dessas estratégias. No Proad, atendo em média 150, 200 consultas de crack por mês. Temos uma taxa de sucesso de 1/3, que abandona o crack totalmente. Os outros 2/3, não. Então, tentamos diminuir a frequência de uso para que o indivíduo tenha uma qualidade de vida melhor, um desempenho profissional razoável. Um paciente me disse certa vez que a maconha o ajudava a diminuir o uso do crack. A partir disso, fizemos uma experiência controlada com 50 dependentes de crack usando maconha, com controle rigoroso e uma série de variáveis para ter aferição científica, com acompanhamento detalhado por um ano. Resultado: 68% abandonaram o crack depois dessa experiência, que foi relatada no Journal of Psychoactive Drugs, uma revista científica da Califórnia. Em algumas experiências no exterior, há ainda a possibilidade de os médicos fornecerem o produto ou prescreverem a droga. Isso começou na Inglaterra no início do século 20, quando os médicos britânicos foram autorizados a prescrever heroína para soldados dependentes que voltaram da guerra mutilados. É preciso esclarecer que a política de redução de danos não se opõe à política de abstinência. Elas são complementares, não antagônicas. Cada caso é um caso. A internação compulsória pressupõe a da abstinência, o que é louvável. Mas funciona menos. No dia em que for liberado, o dependente terá uma recaída.

O status de epidemia do crack é real?
Como não temos nem estrutura de atendimento adequada, não podemos dizer se e quanto aumentou o consumo de crack. A quantidade de dependentes que me procurava em 1996 e em 2012 é praticamente a mesma. O que há é mais visibilidade.

Disponível em: http://coletivodar.org/2013/01/dartiu-xavier-pensam-que-a-miseria-social-e-uma-decorrencia-da-droga-o-que-nao-e-verdade/

Participação no programa Contra ou a Favor? Internação compulsória


Os efeitos da cocaína: no começo, tudo é festa e euforia. Mas com o passar do tempo, ela pode te deixar broxa, fraco e com doenças graves.


O uso de cocaína está disseminado em todas as camadas da sociedade. Entre os usuários, estão jovens de classe média que utilizam a droga em baladas e festas. A maioria experimenta com o objetivo de conhecer seus efeitos ou até mesmo porque desejam passar mais tempo “ligadão”, mas muitos desconhecem que, mesmo o uso esporádico da droga, pode ser prejudicial.

Isso porque, as substâncias presentes na cocaína afetam o sistema neurológico e imunológico de forma irreversível e muito perigosa. Além de todas as transformações internas, o seu uso constante causa, ao longo dos anos, uma degradação física evidente.

“A cocaína é uma droga estimulante que afeta o organismo inteiro, atingindo principalmente cérebro, coração e a frequência respiratória”, explica a médica psiquiatra Ana Cecília Marques. Segundo o também psiquiatra  Anderson Ravy Stolf, mestrando do programa de pós-graduação em psiquiatria pela UFRGS, a cocaína, assim como o crack, está associada a uma diminuição da resposta imunológica do organismo.

 “O uso dessas drogas facilita a ocorrência de infecções. Pode-se observar isso de forma clara nos pacientes que possuem infecção pelo HIV e utilizam cocaína. Eles são mais suscetíveis às infecções chamadas de oportunistas”, diz ele. No sistema neurológico, ela causa hiperexcitação cerebral e consequente morte dos neurônios e a diminuição da irrigação sanguínea no cérebro. A presença de cocaína no cérebro gera também alterações das funções neuropsicológicas, influenciando áreas relacionadas ao julgamento, percepção, concentração, tomada de decisões e impulsividade.

Além dos problemas internos, a droga também pode acabar com sua performance na cama. Isso porque, os usuários têm mais chances de sofrer de disfunção erétil e acabar broxando. “A cocaína pode causar impotência por vários motivos. Os mais comuns são os acidentes vasculares (isquemia) e depressão, afinal durante a abstinência o homem fica abatido, apático, sem libido, em uma ressaca química que demora dias ou até mesmo semanas para passar”, explica a Dra. Ana Cecília.

Ou seja, se momentaneamente a cocaína faz com que você aguente por mais tempo as baladas e sinta uma enorme euforia sexual, com o passar do tempo, a libido diminui e as chances de você ficar devendo na hora H aumentam e muito.

Caso você seja atleta e decida utilizar a cocaína para melhorar sua performance nos treinos, o sinal de alerta deve ser redobrado. Isso porque, de acordo com dr. Anderson, a droga gera um aumento das substâncias que, em níveis muito altos, prejudicam o músculo, como ácido lático. Por isso, não se iluda com a euforia durante o treino. Ela dá a falsa impressão de que a substância aumenta a capacidade de realizar exercícios. Mas o efeito é justamente contrário.

“Após uso agudo, principalmente quando em combinação com exercícios vigorosos, há aumento da  chance de infartos do coração e do cérebro(derrames), pela vasoconstrição das artérias”, conta ele.


Fisicamente não é possível precisar dentro de quanto tempo há mudança após uso intenso da droga, porque isso envolve a suscetibilidade individual à substância. Sabe-se que ela está associada ao aumento de problemas dermatológicos, inclusive infecções de pele, e à própria degradação da aparência física. Além disso, usuários constantes podem adquirir “toques”, gerados por dois motivos principais. “O mais comuns são: a intoxicação e a síndrome de abstinência”, segundo Ana Cecília.

Participação no programa Mundo Melhor apresentado por Gabriel Chalita na Rede Vida


Pesquisa do IBGE aponta que 15 mil estudantes do Ensino Fundamental já fumaram crack

Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2012, entrevistou mais de cem mil adolescentes em 2.842 escolas de todo o país. A pesquisa com estudantes do último ano do Ensino Fundamental, revela que cerca de 15 mil já consumiram crack. Segundo estudo do IBGE, o uso de drogas ilícitas cresceu 1,2% em três anos. Em contrapartida, caiu percentual de alunos que experimentam cigarros. Esses percentuais estão em patamares similares aos encontrados por pesquisas semelhantes à PeNSE, realizadas pela OMS em outros países.
Cerca de 15 mil estudantes do nono ano do Ensino Fundamental de escolas públicas e privadas brasileiras fumaram crack pelo menos uma vez em 2012. Os jovens têm entre 13 e 15 anos. O número de alunos que consomem drogas cresceu 1,2% em três anos. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE, mostra que 7,3% dos mais de três milhões de estudantes do nono ano já usaram algum tipo de entorpecente. Na Europa, uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde mostrou que 17% dos adolescentes com 15 anos já fumaram maconha. Nos Estados Unidos, este número sobe para quase 30%.
A psiquiatra e especialista em dependência química da ABEAD (Associação Brasileira do Estudo do Álcool e outras Drogas), Ana Cecília Marques, afirma que os números são alarmantes. “A mistura álcool e cocaína produz uma substância ainda mais tóxica que pode lesar o tecido nervoso. A maconha, parte do coquetel, dificulta ainda mais o processo de desintoxicação e recuperação. As três subiram no ranking, sinal de que estamos perdendo a guerra. Ressalto que o impacto no cérebro do adolescente, é imprevisível e pode gerar inúmeros problemas, bem mais graves que em um adulto”, alerta a psiquiatra.
Enquanto o uso de drogas ilícitas entre alunos do nono ano do Ensino Fundamental cresceu, o consumo de tabaco apresentou queda. Os dados do IBGE revelam que o número de alunos que fumaram pelo menos uma vez nas capitais caiu de 24%, em 2009, para 22%, em 2012. O consumo de álcool se manteve estável, mas também é preocupante. 71% dos adolescentes já experimentaram bebidas alcóolicas e 21% já ficaram embriagados. A pesquisa do IBGE mostrou ainda que a forma mais comum de obter bebidas alcoólicas é em festas e as meninas bebem mais do que os meninos. Por outro lado, eles compram mais bebidas nos supermercados. Como a média de idade dos adolescentes é de 14 anos, a venda de bebidas alcóolicas para os estudantes é proibida por Lei. Outro comportamento que contraria a legislação é o hábito de dirigir. Mais de 800 mil alunos, 27% do total, admitiram ter dirigido carros nos 30 dias anteriores à pesquisa.

Uso de drogas ilícitas alguma vez na vida
A PeNSE 2012 investigou o uso de drogas ilícitas tais como: maconha, cocaína, crack, cola, loló, lança perfume e ecstasy, os dados evidenciam que 7,3% dos escolares já usaram drogas ilícitas. Considerando as grandes regiões do país, o maior foi observado no Centro-Oeste, 9,3%. Analisando os resultados por capitais, o maior percentual foi encontrado na capital Florianópolis (17,5%), Curitiba (14,4%) e os menores em Palmas e Macapá (5,7% em ambas).
Considerando os escolares que usaram drogas antes dos 13 anos de idade, o percentual para o conjunto do País foi de 2,6%, variando de 1,2%, no Nordeste, a 4,4%, no Sul.

Uso de maconha e crack
Entre os 7,3% de escolares que usaram drogas ilícitas alguma vez na vida, o consumo atual (nos últimos 30 dias) de maconha foi de 34,5%. Em relação ao total dos escolares, este percentual foi de 2,5%. Os estudantes residentes no Sul apresentaram maior consumo atual de maconha (3,6%). O menor percentual foi observado no Nordeste, 0,9%. Considerando as capitais, Florianópolis foi a que apresentou maior proporção do consumo atual de maconha (10,1%).
Entre os 7,3% de escolares que usaram drogas ilícitas alguma vez na vida, 6,4% usaram crack, alguma vez nos últimos 30 dias, ou 0,5% do conjunto de escolares do 9º ano.
Alguns temas da PeNSE também são investigados em outros países. Segundo a Pesquisa de Comportamento de Saúde em Crianças em Idade Escolar (HBSC), 17% dos adolescentes com 15 anos de idade na Europa e América do Norte relataram uso de maconha pelo menos uma vez em suas vidas e 8% pelo menos uma vez nos últimos trinta dias anteriores à pesquisa (consumo recente). Nos Estados Unidos, 30% dos meninos e 26% das meninas fumaram maconha pelo menos uma vez na vida e 16% meninos e 12% das meninas fumaram maconha nos trinta dias que antecederam à pesquisa.

Experimentação de bebidas alcoólicas
A PeNSE 2012 inseriu uma nova questão para medir a experimentação de uma dose de bebida (correspondendo a uma lata de cerveja ou uma taça de vinho ou uma dose de cachaça ou uísque): Alguma vez na vida você tomou uma dose de bebida alcoólica? Assim, o questionário ganhou comparabilidade internacional e o indicador tornou-se mais específico. Responderam que sim 50,3% dos escolares, variando de 56,8% no Sul a 47,3% no Nordeste. A proporção das meninas (51,7%) foi maior que a dos meninos (48,7%).

Consumo atual de bebidas alcoólicas
O consumo atual de bebida alcoólica entre os escolares (consumo nos últimos trinta dias), foi de 26,1% no Brasil e não apresenta diferenças significativas entre os sexos masculino (25,2%) e feminino (26,9%). As capitais com os maiores percentuais de escolares que consumiram bebidas alcoólicas nos últimos 30 dias foram Porto Alegre (34,6%) e Florianópolis (34,1%) e os menores percentuais foram encontrados em Belém (17,3%) e Fortaleza (17,4%).
Entre os escolares que consumiram bebida alcoólica nos últimos 30 dias, a forma mais comum de obter a bebida foi em festas (39,7%), com amigos (21,8%), ou comprando no mercado, loja, bar ou supermercado (15,6%). Outros 10,2% dos escolares consumiram bebida alcoólica nos últimos 30 dias na própria casa.

Episódio de embriaguez
Cabe ainda ressaltar que 21,8% dos escolares já sofreram algum episódio de embriaguez na vida. Os da região Sul apresentaram o maior percentual (27,4%) e os do Nordeste o menor (17,3%). A proporção de estudantes com episódio de embriaguez foi maior nas escolas públicas (22,5%) do que as escolas privadas (18,6%).
Com relação ao álcool, 10% dos estudantes relataram ter tido problemas com suas famílias ou amigos, ou faltarem às aulas ou se envolveram em brigas, porque tinham bebido. O percentual de jovens que declararam esses problemas foi maior entre as meninas (10,4%) do que entre os meninos (9,5%).

Cigarro e outros produtos do tabaco
Os dados da PeNSE para as capitais brasileiras, mostraram que o número de escolares que experimentaram cigarro alguma vez na vida, reduziu de 24,2% para 22,3%, entre 2009 e 2012. No entanto, 5,1% dos escolares haviam fumado cigarro nos últimos trinta dias. As cidades com maiores proporções de escolares fumantes no período foram Campo Grande com 12,4% e Florianópolis com 9,7%.

Comparando os dados de 2009 e 2012, o percentual de escolares que fizeram uso de cigarros nos últimos 30 dias manteve-se estável, em torno de 6%. Segundo a PeNSE 2012, 29,8% dos escolares brasileiros que frequentavam o 9º ano, informaram que pelo menos um dos responsáveis era fumante. 89,3% dos escolares estudam em escolas que informaram possuir política sobre proibição do uso do tabaco.

O uso do crack entre os jovens

Pesquisa com estudantes do último ano do Ensino Fundamental revela que cerca de 15 mil consumiram crack. Segundo estudo do IBGE, uso de drogas ilícitas cresceu 1,2% em três anos. Em contrapartida, caiu percentual de alunos que experimentam cigarros.

Cerca de 15 mil estudantes do nono ano do Ensino Fundamental de escolas públicas e privadas brasileiras fumaram crack pelo menos uma vez em 2012. Os jovens têm entre 13 e 15 anos de idade. O número de alunos que consomem drogas cresceu 1,2% em três anos. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE, mostra que 7,3% dos mais de três milhões de estudantes do nono ano já usaram algum tipo de entorpecente. Na Europa, uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde mostrou que 17% dos adolescentes com 15 anos já fumaram maconha. Nos Estados Unidos, este número sobe para quase 30%.

A psiquiatra e especialista em dependência química da ABEAD (Associação Brasileira do Estudo do Álcool e outras Drogas), Ana Cecília Marques, afirma que os números são alarmantes. “A mistura álcool e cocaína produz uma substancia ainda mais toxica que cada uma separadamente, um coquetel que pode lesar o tecido nervoso. A maconha, parte do coquetel, dificulta ainda mais o processo de desintoxicação e recuperação. As três subiram no ranking, sinal de que estamos perdendo a guerra. Ressalto que o impacto no cérebro do adolescente, é imprevisível e pode gerar inúmeros problemas, bem mais graves que em um adulto”, alerta a psiquiatra.

Enquanto o uso de drogas ilícitas entre alunos do nono ano do Ensino Fundamental cresceu, o consumo de tabaco apresentou queda. Os dados do IBGE revelam que o número de alunos que fumaram pelo menos uma vez nas capitais caiu de 24%, em 2009, para 22%, em 2012. O consumo de álcool se manteve estável, mas também é preocupante. 71% dos adolescentes já experimentaram bebidas alcóolicas e 21% já ficaram embriagados. A pesquisa do IBGE mostrou ainda que a forma mais comum de obter bebidas alcoólicas é em festas e as meninas bebem mais do que os meninos. Por outro lado, eles compram mais bebidas nos supermercados. Como a média de idade dos adolescentes é de 14 anos, a venda de bebidas alcóolicas para os estudantes é proibida por Lei. Outro comportamento que contraria a legislação é o hábito de dirigir. Mais de 800 mil alunos, 27% do total, admitiram ter dirigido carros nos 30 dias anteriores à pesquisa.