quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Epidemia do crack ganha plano de emergência

Diário de São Paulo - 08/12/2011

Governo Federal apresenta projeto de combate à droga, que já é a mais consumida no estado de São Paulo Reinaldo Chaves/Agência BOM DIA

O crack já é a droga ilícita mais consumida no Estado de São Paulo, em municípios de todos os portes. O governo federal lançou ontem  um novo plano nacional para o enfrentamento do crack, com ações importantes, porém, com propostas já apresentadas em outras oportunidades e também insuficientes para o Estado.

No primeiro semestre deste ano, a Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack mostrou que em 79% dos municípios paulistas há falta de leitos hospitalares do SUS (Sistema Único de Saúde) destinados aos dependentes químicos.

O plano federal lançado ontem, chamado de “Crack, é possível vencer”, prevê investimentos de R$ 4 bilhões da União. Até 2014, o Ministério da Saúde repassará recursos para que estados e municípios criem 2.462 leitos. Muito pouco diante da magnitude do problema. O Ministério da Saúde não informou quantos leitos estão previstos para São Paulo.

Ana Cecília Marques, psiquiatra da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas), estima que no Estado de São Paulo há pelo menos 6 milhões de usuários de drogas. “A única pesquisa nacional abrangente, de 2007, feita pelo Cebrid [Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas], com dados só do álcool, mostra a necessidade de cerca de 200 mil leitos. Ou seja, temos no Estado um déficit gigantesco de leitos”, comenta.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, há 400 leitos de internação e só 68 CAPSad (Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas) no Estado.

Falta de gestão
Os CAPSad realizam tratamento ambulatorial com verba do governo federal. O governo estadual só capacita os profissionais que trabalham nestes locais.

A instalação de um CAPSad depende da apresentação de um projeto por parte do município. Ana Cecília conta que muitas vezes existe a verba federal para esse fim, mas as cidades não vão atrás. “Isso ocorre porque a maioria das cidades paulistas não possui dados precisos sobre as drogas, então nem conseguem pedir verbas. É um problema grave de gestão”, diz.

O governo estadual afirma que vai ampliar os leitos de internação. A meta é criar mais 400 até 2012 com investimento de R$ 200 milhões. Segundo a Secretaria de Saúde, é realizado um trabalho de mapeamento de áreas com mais necessidade de atendimento. A cidade de Botucatu e o Hospital das Clínicas de São Paulo foram os primeiros locais escolhidos.

Medida prevê sistema de informações
A presidente Dilma Rousseff e o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) anunciaram ontem também que será feito um serviço de levantamento de dados para definir número de usuários e o funcionamento do consumo em locais de concentração do comércio de crack. Será criado ainda o Sinesp (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas)  sobre a situação da segurança pública no país.

Governo quer uso maior de bens do tráfico
Ontem também foi anunciado o envio ao Congresso do projeto de lei para agilizar o processo de alienação dos bens que são produto do tráfico de drogas. A mesma proposta vai dar mais agilidade no procedimento de destruição de drogas apreendidas.

Internação à força passa a ser aceita pelo governo
Um ponto polêmico da luta contra às drogas, a internação involuntária de usuários, foi abordado ontem em Brasília na apresentação do plano “Crack, é possível vencer”. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, serão criados 308 Consultórios de Rua, com médicos, psicólogos e enfermeiros, que farão busca ativa de dependentes e avaliarão se a internação pode ser voluntária (com o aval do usuário) ou involuntária (contra a vontade do paciente).

“A própria lei autoriza esse tipo de internação por medida de proteção à vida. Os Consultórios de Rua farão uma avaliação sobre o risco à vida da liberação do dependente químico”, disse o ministro, ontem, durante o evento.

Outra ação do governo será facilitar o acesso por telefone a informações sobre drogas. O atendimento telefônico VivaVoz, que auxilia e orienta usuários e familiares de dependentes, passará de 0800 para o número de três dígitos 132. Mais informações no site www.brasil.gov.br/enfrentandoocrack.

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