Colégios particulares tradicionais da capital se reuniram ontem na I Jornada de Prevenção contra o Comportamento de risco nas Escolas Paulistanas, em busca de medidas para afastar seus estudantes do uso de álcool, cigarro e drogas ilícitas. Profissionais de seis instituições ouvidos pela reportagem afirmam que a facilidade de acesso a esses produtos em baladas, festas de 15 anos e até dentro de casa é crescente.
O problema enfrentado pelos colégios aparece também nas estatísticas oficiais do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que realizou um estudo sobre o tema divulgado pelo JT em dezembro de 2010: o uso de drogas ilícitas nas escolas particulares, no ano anterior à pesquisa, era de 13,6% – índice acima da taxa verificada na rede pública, de 9,9%.
A ideia de unir forças para combater o consumo de drogas entre os estudantes da cidade partiu do colégio I.L.Peretz. Ali, o trabalho de prevenção começa já no ensino infantil, com alunos de 4 anos. “Desde cedo, trabalhamos vários assuntos relacionados à saúde para que, quando estejam na adolescência, já tenham meio caminho andado”, diz a coordenadora do projeto Prev-Peretz, Evelina Holender.
Ela conta que já há alguns anos a escola vem estudando alternativas modernas para abordar o tema. “O que se fazia antigamente nas escolas, como convidar alguém para dar uma palestra sobre drogas uma vez por ano, por exemplo, não estava mais funcionando”, ressalta. Atualmente, o Peretz conta com a contribuição da psiquiatra Ana Cecília Marques, pesquisadora da Unidade de Álcool e Drogas da Unifesp (Uniad).
A psiquiatra passou a aplicar um questionário a cada dois anos para avaliar o quanto os alunos do Peretz estavam expostos ao álcool, ao tabaco e às drogas ilícitas. “Até pouco tempo, dizia-se que atividades de prevenção nas escolas não surtiam efeito. Passamos a trabalhar de maneira científica e agora estamos notando resultados importantes”, conta Evelina.
De 2005 até 2010, o colégio observou uma redução de 75% para 40% na parcela de alunos com menos de 18 anos que experimentaram álcool. Também diminuiu a porcentagem de alunos a partir do 8.º ano que consumiram álcool de maneira abusiva (mais de cinco doses de uma só vez): de 20 para 16%. O uso de tabaco caiu de 50% para 16% e a taxa de uso da maconha foi de 23% para 2%.
Para os educadores, a iniciação precoce ao álcool é a maior preocupação. O coordenador pedagógico César Pazinatto, responsável pelo Programa de Promoção de Saúde do Colégio Santo Américo, diz que as bebidas são as grandes vilãs – tanto pelo fácil acesso quanto por funcionarem como porta de entrada para outras drogas.
Na opinião do educador Armando José Capeletto, orientador do Colégio Santa Maria, atualmente a construção social da adolescência favorece a precocidade. “As crianças querem crescer logo e ir para as festas e baladas. Então, o que deveria acontecer mais tarde, acaba acontecendo aos 11, 12 anos”, acredita.
Violência e impulsividade
Para a terapeuta familiar e psicopedagoga Elizabeth Polity, diretora do Colégio Winnicott, bullying e violência também são comportamentos de risco que merecem atenção. “Essas questões que acompanhamos nos jornais de crianças portando armas de fogo, de brincadeiras que podem prejudicar os colegas, todos estão inseridos nesse contexto”, diz.
Elizabeth acrescenta que o aumento de uso de álcool e outras drogas pelos adolescentes tem a ver com a dificuldade que as crianças têm atualmente de lidar com sua impulsividade e de desenvolver um autocontrole. “Existe um bombardeamento incrível por parte da mídia, que promete uma vida cheia de prazer e alegria, sem nenhum compromisso. A própria família vive sob a égide do prazer e do medo de frustrar”, diz.
Para Elizabeth, esse é o ambiente propício para a adesão ao uso de substâncias químicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário