terça-feira, 25 de outubro de 2011

Quem mora sozinho tem mais chances de morrer por doenças ligadas ao álcool

Morar sozinho está associado a um risco substancialmente aumentado de mortalidade relacionada ao álcool – independentemente do sexo, nível socioeconômico ou a causa específica da morte.
Pessoas que moram sozinhas têm um maior chance de morrer por causa de doenças relacionadas ao álcool, segundo um estudo finlandês. De um total de 18.200 mortes ligadas ao consumo de bebida alcoólica, dois terços ocorreram em indivíduos que viviam sozinhos. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Finnish Institute of Occupational Health, em Helsinque.
Os pesquisadores analisaram informações de 80% das pessoas que morreram na Finlândia entre 2000 e 2007. Segundo os atestados de óbito, as mortes incluíam doença hepática, intoxicação por álcool, acidentes de carro, além de casos de violência relacionada ao consumo de álcool. “Este é o primeiro estudo populacional que associa o fato de morar sozinho com a mortalidade em decorrência do álcool”, disse Kimmo Herttua, autor do estudo, ao site de VEJA.
Entre 2000 e 2003, homens que viviam sozinhos tinham 3,7 vezes mais chances de morrer de doença hepática em comparação com homens casados ou que moravam com outras pessoas, segundo mostrou a pesquisa. Entre 2004 e 2007, homens que viviam sozinhos tiveram 5 vezes mais probabilidades de morrer de doença hepática em comparação com quem dividia o teto.
A pesquisa leva em conta que, em 2004, houve uma redução de impostos, fazendo com que o preço da bebida diminuísse. Além disso, as leis foram alteradas, tornando legal importar quantidades praticamente ilimitadas de álcool de outros países da União Europeia. “Por conta do desenho do estudo, é impossível dizer se morar sozinho é a causa ou a consequência do abuso de álcool. Mas nossos resultados mostram que pessoas que vivem sozinhas são mais vulneráveis aos efeitos adversos do álcool”, afirmou Herttua.
“É possível dizer que conexões sociais podem ajudar a prevenir doenças em decorrência do alcoolismo. Isso porque há uma ligação entre a falta de relações interpessoais e depressão. Então, o abuso de álcool acaba servindo como uma automedicação para indivíduos sozinhos e depressivos”, explica Herttua.
— O que já se sabia sobre o assunto
Para Ana Cecília Marques, psiquiatra da Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas, o estudo traz novidades ao associar o fato de morar sozinho com a mortalidade por álcool. Há estudos, segundo ela, que relacionam a solidão de idosos e o desenvolvimento de alcoolismo, mas não é um estudo sobre mortalidade.  A especialista pondera, contudo, que mais pesquisas devem ser feitas para estabelecer a relação entre os dois fatores.
Ana Cecilia lembra que a conclusão de que quem fica sozinho tem mais chances de ter problemas relacionados ao álcool não pode ser aplicada a todas as pessoas. “No caso dos jovens, é até ao contrário. Quem mora em república, por exemplo, bebe mais por pressão do grupo. Adolescente bebe por curiosidade”, diz a psiquiatra. “Não se pode dizer que uma pessoa que mora sozinha é alcoólatra.”
Especialista: Ana Cecília Marques, psiquiatra da Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas
Envolvimento com o assunto: Autora de pesquisas sobre o consumo de álcool e outras drogas entre jovens brasileiros, psiquiatra da Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas e coordenadora do Departamento de Dependências da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
— Conclusão
Ter relações sociais fora de casa é importante para o bem-estar de qualquer pessoa. Morar com a família ou ser casado pode ajudar a controlar um possível abuso do álcool e faz com que mais pessoas estejam atentas a um comportamento depressivo. Outros fatores de risco, porém, devem ser considerados antes de determinar se uma pessoa tem ou não risco de morrer em decorrência do abuso de álcool.
Por Natalia Cuminale


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