Seis em cada dez dependentes de crack da região central de São Paulo já passaram por tratamento, mas estão novamente nas ruas usando a droga.
É o que revela uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com 170 usuários da cracolândia, feita no mês passado.
Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, um dos coordenadores, o trabalho revela uma "cronificação" da dependência. Entre os entrevistados, 42% são usuários de longa data -entre 10 e 20 anos.
Na visão dos psiquiatras, o alto índice de recaídas não é uma surpresa. Dados da literatura indicam que 50% dos dependentes do crack recaem no primeiro ano.
Além da dificuldade natural em tratar o doente (a síndrome da abstinência é intensa, e muitos desistem do tratamento), a qualidade da terapia oferecida é questionada por especialistas.
"Os tratamentos são desatualizados, não adotam as boas práticas recomendadas pela medicina baseada em evidência", afirma a psiquiatra Ana Cecília Roselli Marques, da Abead (Associação Brasileira de Estudos de Álcool e outras Drogas).
Marques participou de um projeto-piloto na cracolândia por 12 meses, mas, no final, a prefeitura rompeu a parceria com os pesquisadores.
A proposta de terapia envolvia várias frentes. A primeira era tratar, além da dependência ao crack, os vários problemas de saúde associados à droga, como outros distúrbios psiquiátricos, desnutrição e alterações cardíacas.
"O ideal seria ter um modelo de hospital-dia, onde a pessoa passaria o dia e depois iria para uma moradia assistida. O que não dá é para ele voltar para a rua", afirma.
Depois dessa fase, que dura três semanas, começa o treinamento para evitar as recaídas, que vai durar de seis a oito meses. A terceira fase é de manutenção. "É como qualquer doente crônico, tem que ser cuidado o resto da vida", diz Marques.
Segundo Rosangela Elias, coordenadora de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde, o município dispõe de equipes e de serviços qualificados no enfrentamento e tratamento do crack.
"Não existe milagre. O processo vai do tratamento à reinserção social. Quem dá emprego para uma pessoa que ficou cinco anos morando na cracolândia?"
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