Conforme uma pesquisa da
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), cerca de 1,5 milhões de
brasileiros fumam maconha todos os dias. A prática do autocultivo da maconha
vem somando adeptos no Brasil, pois as pessoas querem mais segurança e
liberdade e por isso cultivam a própria maconha e consomem dentro de suas
casas. Contudo, muitos usuários mantêm-se no anonimato e um dos motivos é a
ambiguidade da lei 11.343, de 2006, que não determina a quantidade exata de
droga que separa usuários e fornecedores.
Alguns usuários da planta
optam por fazer o autocultivo, por algumas razões: não se expor a violência nas
chamadas “bocas” de drogas (local onde os traficantes comercializam a maconha e
outros tipos de drogas) e não fazer uso da maconha vendida pelo traficantes que
misturam muitas substâncias tóxicas, o que é chamado de maconha “prensada”. Foi
o caso do usuário Leandro Lima, 21 anos, de São Caetano do Sul, que começou a
fumar maconha aos 16 anos, por curiosidade e realiza o autocultivo em sua casa
há dois anos para fins recreativos. “Comecei a plantar para saber o que estava
consumindo, para ter certeza da qualidade da maconha, pela minha saúde, até
porque eu não uso agrotóxicos e também eu gosto de cultivar”, afirmou Leandro,
que faz o autocultivo em sua casa com a aprovação dos pais. “Eles aceitam, mas
não aprovam. Minha mãe, por exemplo, acha melhor essa alternativa, pois
cultivar em casa vai me poupar de ir a uma ‘boca’ de fumo”.
Em relação a maconha ser
“porta de entrada” para outras drogas, Leandro disse que: “a primeira droga que
experimentei foi a espuma da cerveja que meu pai me deu em uma festa quando era
pequeno. Não acho que a maconha seja a porta de entrada, o que leva uma pessoa
a outras drogas é ir em uma “boca de fumo”, pois lá existem outras drogas além
da maconha e são oferecidas para quem vai comprar, isso é um acesso realmente
para outras drogas”. Já a psiquiatra e atual presidente da Associação
Brasileira de Álcool e Outras Drogas (ABEAD), Ana Cecilia P. Roselli Marques,
complementa que no Brasil, não há estudos de que a maconha é mais uma porta de
entrada, mas nos Estados Unidos, a maconha é considerada sim, como o álcool e o
tabaco.
Mais polêmico que a
questão do uso da maconha é a sua legalização, conforme o cientista social
Hélio Rios, de 51 anos, a legalização da maconha traria mais aspectos positivos
do que negativos. “Com o fim do tráfico, a exemplo do que ocorreu com a lei
seca nos Estados Unidos, a violência que decorre dele em muito diminuirá. Os
negativos são semelhantes ao uso das drogas lícitas como o álcool que é responsável
pela principal causa das violências no trânsito e doméstica.” Hélio é a favor
da legalização da maconha no país e acredita que a regulamentação aconteceria
seguindo os moldes de como é feita a venda de bebidas alcoólicas, contudo
salienta que para ambas as drogas deveriam ter mais critérios de
comercialização e uso.
Já a psiquiatra Ana
Cecilia afirma que em relação a legalização, o país não tem uma política de
drogas que comporte todos os impactos que a maconha pode gerar. Referente aos
conflitos que podem ser gerados na saúde pública, a psiquiatra aponta o
“aumento do consumo de outras drogas, consumo cada vez mais cedo dos jovens,
repercussões e alterações na vida acadêmica (abandono, repetência), alterações
no amadurecimento cerebral, aparecimento precoce de transtornos mentais
(depressão, pânico e esquizofrenia), alterações orgânicas (bronquite, rinite,
entre outras).”
Outro motivo pelo
qual o autocultivo da maconha é feito por alguns usuários da planta são para
fins medicinais. Assim como Leandro, muitos acreditam nos princípios ativos que
podem ajudar no tratamento de muitas doenças, como câncer, glaucoma, epilepsia,
entre outros. A psiquiatra aprova o uso da maconha medicinal desde que “sejam
produzidas por estudos científicos, cuja metodologia seja bem controlada, isto
é, estudos multicêntricos com amostras de indivíduos representativas e controle
de todas as variáveis necessárias para tais pesquisas” e conclui dizendo que as
pesquisas ainda estão no início. Ou seja, é cedo para afirmar algo conclusivo e
fazer o uso indiscriminado da maconha, completa.
Sobre a imagem e
opinião que a sociedade criou dos usuários da maconha tanto recreativos como
medicinais e também referente a legalização, Ana Cecília, cita a pesquisa do
Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia para Políticas de Álcool e Drogas,
(IMPAD), que a maioria das pessoas não quer a legalização da maconha. Porém,
ela afirma que é necessário uma pesquisa que aborde as questões que permeiam a
legalização, como as ações e os efeitos da maconha de curto a longo prazo.
“Nossa população não tem sido submetida a qualquer medida preventiva, ela não
sabe sobre o outro lado da moeda. Acabamos de saber que 60% dos jovens
‘baladeiros’ vão para beber todas, isto é, diversão é igual a intoxicação. Se
tivermos mais drogas legais para adultos o que poderá acontecer na balada?”,
conclui a psiquiatra.
Em específico sobre a
opinião pública no uso da maconha medicinal, o sociólogo Hélio Rios, diz que
ainda existe muito preconceito, pois esses usuários são vistos como criminosos
e não como doentes que estão tentando outra alternativa para sua enfermidade. E
por serem vistos com tanto preconceito, “o poder público se sente confortável
por não oferecer nenhuma política de recuperação aos dependentes, mas, sob o
apoio da população, trata o problema como caso de política, a exemplo do que
vem ocorrendo na cracolândia em São Paulo”, finalizou o sociólogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário