ANA CECÍLIA ROSELLI MARQUES
NÃO
Muito se tem
falado por aí sobre o uso terapêutico da maconha e sua possível legalização no
Brasil, após as mudanças de legislação ocorridas no vizinho Uruguai.
Mas pouco se tem discutido, profundamente, a questão. O fato que
parece estar esquecido é que a maconha é uma droga psicotrópica que causa
dependência, uma grave doença do cérebro, e que cursa com muitas complicações.
É verdade que algumas pesquisas vêm sendo feitas, inclusive no
Brasil, para entender a ação dos diferentes componentes da Cannabis sp e sua
utilização como medicamento. Mas também é verdade que os resultados ainda não
são replicáveis (aplicáveis).
Isto é, para o controle da dor ou do apetite, por exemplo,
substâncias já testadas devem ser aplicadas. Experiências com a maconha sem
consentimento assistido (informações sobre todos os benefícios e malefícios)
são a solução?
Estudos mostram que, além da dependência, o uso crônico produz
bronquite crônica, insuficiência respiratória, aumento do risco de doenças
cardiovasculares, câncer no sistema respiratório, diminuição da memória,
ansiedade e depressão, episódios psicóticos e de pânico e, também, um
comprometimento do rendimento acadêmico e/ou profissional. Por que optar por um
caminho que oferece tantos riscos?
A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, a
Abead, pesquisou sobre algumas experiências de descriminalização no mundo e
elaborou uma síntese de evidências sobre os resultados.
Foram eles: o aumento do consumo, a redução da idade de
experimentação, a diminuição do preço de comercialização e, portanto, um
aumento da disponibilidade e do acesso à droga e, pior, um mercado para
turistas que pode trazer outros riscos sociais e de saúde.
Por esses e outros motivos, é preciso debater muito mais antes
de se alterar a lei ou mesmo propor medidas mais liberalizantes.
No Brasil, a percepção de risco relacionado à substância é muito
baixa: a maconha é vista como uma droga leve, natural e que não faz tão mal, a
despeito das respeitadas pesquisas já há muito publicadas que mostram um
aumento significativo da taxa de doenças mentais entre os usuários quando
comparados à população de não usuários da substância. Onde fica o direito
humano, principalmente o do adolescente, à vida saudável, à saúde mental?
Então, vale ainda mais uma pergunta. Se, em países
desenvolvidos, a legalização trouxe consequências desastrosas, por que no
Brasil, que enfrenta tantas outras dificuldades, como a falta de tratamento
especializado, a falta de prevenção, uma política de drogas que precisa ser
revista, tal impacto seria diferente?
Para além dos usuários e defensores de direitos individuais de
usar drogas, e não daqueles que lutam pelos direitos coletivos, é preciso
entender que existem "clássicos" interesses econômicos em um novo
negócio. Foi assim com o cigarro, tem sido assim com a bebida alcoólica, e o
método utilizado para conseguir tal empreitada tão perversa é o uso da
ambivalência.
Vale a pena lembrar que a maconha não é um produto qualquer. É
uma droga psicotrópica, mais uma entre tantas cujo consumo é preciso controlar,
de impacto nas células humanas, na família e na sociedade.
Não é possível fechar os olhos diante do jogo mercantilista. É
preciso olhar firmemente para a situação da população brasileira, e não
submetê-la a mais um fenômeno que não possui recursos para ser manejado. De que
lado cairá a moeda?
Nenhum comentário:
Postar um comentário