Programa
do Estado começa 40 dias após ação da prefeitura na cracolândia
Gestão tucana tenta se diferenciar de projeto lançado
por petista ao exigir tratamento prévio de dependentes
Quase 40 dias depois de a Prefeitura de São Paulo
lançar o programa Braços Abertos --que oferece trabalho, moradia, alimentação e
tratamento na cracolândia--, o governo do Estado também começou a dar emprego a
dependentes químicos.
Oficializada ontem, a primeira
frente de trabalho integra o programa Recomeço, lançado em maio de 2013 pela
gestão Geraldo Alckmin (PSDB) para recuperar usuários de droga e álcool.
Serão ofertadas 40 vagas de
ocupações como ajudante de escritório e até de atendimento no Cratod (centro de
tratamento de droga).
Todos receberão R$ 395 por mês
por seis horas diárias trabalhadas, quatro dias por semana. Às sextas, há um
curso de capacitação profissional. O projeto dura nove meses.
A gestão tucana chegou a fazer
críticas no começo do ano à ação da administração Fernando Haddad (PT), que
paga R$ 15 por dia para que frequentadores da cracolândia trabalhem com
serviços de varrição de ruas e praças.
O psiquiatra Ronaldo Laranjeira,
coordenador do programa estadual Recomeço, dizia achar "pouco
provável" a possibilidade de a iniciativa petista ser bem-sucedida.
Defendia que viciados fossem
afastados do ambiente em que consomem as drogas. "Deixá-los na cracolândia
é o equivalente a colocar um alcoólatra para trabalhar dentro de um bar",
afirmou.
ALTA MÉDICA
Agora, o Estado tenta se
diferenciar do programa da prefeitura, que emprega dependentes sem a
obrigatoriedade de tratamento prévio.
Para participar do programa
estadual, o usuário precisará ter recebido uma espécie de "alta"
médica.
De acordo com Eloisa Arruda,
secretária estadual da Justiça, a inclusão social dos dependentes já estava
prevista em 2013, antes da ação lançada neste ano por Haddad.
"Para conseguir trabalhar e
se reinserir socialmente, ele precisa largar a droga. Pela literatura médica,
sabemos que o primeiro passo da terapia não é trabalho, mas ficar sem a
droga", defende Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira
de Estudos do Álcool e outras Drogas.
Para Dartiu Xavier da Silveira,
coordenador do Proad (programa para dependentes de droga da Unifesp), a
prefeitura priorizou o que considera ser a causa do uso de drogas: a exclusão
social.
"Por isso, o programa dá
trabalho, moradia e alimentação para todos os usuários da cracolândia. A ideia
é incluir todo mundo, não a minoria que consegue largar a droga estando na
rua", diz.
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