Alcoolismo é considerado doença crônica que tem cura, mas deve ser tratado
por toda a vida
Alcoolismo
é a principal causa de pedidos de auxílio-doença, de acordo com dados do INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social). O número de pessoas que se afastaram do
trabalho por transtornos mentais e comportamentais decorrentes do abuso do uso do álcool
aumentou em 19% em
quatro anos. Em 2009, eram 12.055 e, em 2013, 14.420. De acordo com
especialistas ouvidos pelo R7, o excesso ou abuso de bebidas
alcoólicas trazem prejuízos para o organismo como também para a vida social do
dependente.
A
psiquiatra e presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e
outras Drogas), Ana Cecília Marques, explica que o álcool provoca uma espécie
de anestesia no cérebro e, consequentemente, a pessoa perde a “concentração,
atenção, os reflexos e a memória”.
— O
álcool provoca a demência alcoólica que é uma doença em que o indivíduo fica
senil antes do tempo, pois o cérebro para de funcionar devido a alterações no
cérebro. Além de afetar todo o sistema nervoso central, o álcool também mexe
com sistema cardiovascular, ou seja, as pessoas ficam mais vulneráveis a ter
AVC (acidente vascular cerebral). Esse rompimento de artérias, também chamado
de derrame, pode deixar a pessoa com sequelas ou levar à morte.
Ainda em
relação ao organismo, a especialista explica que a substância também gera
hipertensão, além de problemas gastrointestinais, como gastrite, cirrose
hepática e hepatite alcoólica. Uma das consequências do alcoolismo pode ser
também o desenvolvimento de vários tipos de câncer, como de boca, garganta,
intestino e outros.
Além do
aspecto físico, os dependentes poderão também entrar em depressão, após o
isolamento social.
— Como o
álcool provoca várias consequências no sistema nervoso central, a pessoa,
muitas vezes, se isola, já que os pensamentos e o comportamento são alterados.
Com isso, a pessoa fica tão autocentrada que tem dificuldades de se relacionar.
Ela fica irritada, ansiosa e pode entrar em depressão.
Segundo o
psiquiatra e especialista em dependência química e presidente-executivo do Cisa
(Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), Arthur Guerra de Andrade, o
alcoolismo “tem traços hereditários, mas é uma doença multifatorial”, que pode
estar associada a problemas sociais, culturais, psicológicos e até profissionais.
Sou dependente?
A
professora do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo) Zila Sanchez explica que para identificar se a pessoa
está dependente basta verificar a “relação que ela estabelece com o álcool”.
— A
necessidade de ele acordar e ter que beber ou até mesmo deixar pra trás tudo
que achava importante para beber pode ser um sinal. Tudo é uma questão de como
ele trata o consumo do álcool.
De acordo
com Andrade, dificilmente o alcoólatra procura ajuda sozinho “porque ele sempre
acha que pode parar de beber quando quiser”.
— A
negação faz parte do quadro clínico, assim como mudança de comportamento, saúde
debilitada, prejuízos no trabalho e problemas nas relações familiares.
Tratamento
De acordo
com a presidente da Abead, o alcoolismo é uma doença crônica e, como todas as outras,
deverá “ser tratada ao longo da vida”. Por enquanto, a ciência não descobriu a
cura.
— Porém,
hoje há ótimos tratamentos em que 60% das pessoas se recuperam. Porém, se não
for tratado, pode ser fatal. Não necessariamente a pessoa que tem a doença necessita
ser internada ou tomar remédios. 90% dos casos de dependentes são tratados em
consultório. 5% são internados porque são casos muito graves e outros 5% são
internados por pouco tempo, apenas para desintoxicar. No tratamento, o médico
conta com a ajuda de um profissional de outra área, como terapeuta ocupacional,
psicólogo e até mesmo assistente social.
Aumento do consumo
O último
levantamento realizado pela Unifesp mostra que, em seis anos, o consumo de
álcool no Brasil cresceu 20%. Entre 2006 e 2012, o índice de pessoas que bebem
pelo menos uma vez por semana passou de 45% para 54%.
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