terça-feira, 18 de março de 2014

Cracolândia gera transtornos em São José


Ponto de consumo de crack, quarteirão de ruas tradicionais no centro de São José afeta o atendimento de unidade de reabilitação e casa que presta serviços a gestantes; funcionários viram reféns de usuários
Caroline Lopes

Funcionários da Unidade de Reabilitação Centro-Norte e da Casa da Gestante-Projeto Casulo, ambos subordinados à Prefeitura de São José dos Campos, contam que usuários de crack estão trazendo transtornos nos arredores das duas unidades, na rua Antônio Moraes Barros, no Centro. A Prefeitura de São José promete providências.
O VALE aponta, desde 2011, que se formou uma ilha de consumo de crack no quadrilátero formado pelas ruas Antonio de Morais Barros, Major Antonio Domingues, Coronel Madeira e Avenida Madre Tereza, no Centro. 

Relatos. Funcionários da Unidade de Reabilitação Centro-Norte contam que já tiveram vários problemas e conflitos com a presença dos dependentes. “Há seis meses um travesti pulou aqui para dentro da unidade e, de tão chapado, não conseguia saltar de volta. Tivemos que chamar a polícia”, conta uma das trabalhadoras da unidade. “Nos sentimos impotentes porque, em um ou dois meses, vemos pessoas sendo transformadas em verdadeiros farrapos humanos. Perdem os dentes, ganham aspecto de caveiras”, disse outra funcionária do mesmo local.

Agressivos. Segundo os funcionários, um grupo de usuários formado sempre pelas mesmas pessoas é tranquilo e não incomoda ninguém. Mas, ultimamente, o local está atraindo usuários diferentes daqueles já conhecidos.
“Tem aparecido novos usuários, que xingam, pedem dinheiro e vivem arrumando confusão. Há ainda brigas entre os dependentes. Eles brigam entre si, causam bastante confusão. É raro eles mexerem com os pacientes porque deixamos os portões fechados. Mas às vezes até isso acontece”, afirmou outro funcionário do local. Na unidade de reabilitação, afirmam os funcionários, a lixeira teve de ser trancada. “Porque eles estavam escondendo drogas lá dentro”.

Projeto Casulo. Não é muito diferente a situação na Casa da Gestante-Projeto Casulo. Eles abordaram funcionárias logo na entrada. A maioria usa a abordagem para pedir dinheiro. É preciso que os funcionários sejam firmes para que os usuários se afastem.
Uma funcionária contou que um casal com recém-nascido que deixava a unidade foi roubado na porta da centro há cerca de um mês.
“Não lembro o que levaram, mas ameaçaram o marido, dizendo que se ele falasse algo eles entrariam aqui”.
Em outra ocasião, diz a funcionária, um dos dependentes de crack entrou no banheiro da unidade. “Quando vimos, ele já tinha entrado e tomado banho aqui dentro”. 

Providências. A Secretaria de Saúde de São José informou que estuda uma forma de controlar o acesso aos dois serviços municipais, além de intensificar as rondas da Guarda Municipal nos arredores.
Uma reunião entre os secretários da Saúde, Paulo Roitberg, e da Defesa do Cidadão, José Luís Nunes, tratou do assunto. A prefeitura argumenta que mantém serviços de abordagem e de tratamento. Já a PM afirma que faz rondas rotineiras, mas não pode remover os usuários se eles não estão cometendo atos ilícitos. 


Crack é a última droga, revela pesquisa 

“O crack é a última das drogas na carreira de um usuário”. A frase é da presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos de Álcool e outras Drogas), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Ana Cecília Marques. “Pesquisas feitas no Brasil revelam que quase ninguém começa no vicio pelo crack. A maioria dos usuários de crack, que nada mais é do que a cocaína fumada, antes, já era dependente de outras drogas, principalmente a cocaína inalada”. 

Danos. Os maiores prejuízos causados pelo crack ao organismo são de ordem cardíaca e respiratória. “Ele causa acidente vascular cerebral, infartos, embolias pulmonares, câncer e infecções”, diz a especialista. No entanto, é um mito dizer que o crack é a droga mais perigosa. “Vai depender do organismo. A droga libera no cérebro a dopamina, que pode ter efeito desinibidor, de auto-estimulação, de euforia, de desorganização mental. Cada indivíduo terá uma resposta”.

Números. Estudo da Abead no ano passado revela que 2% dos brasileiros entre 15 e 65 anos usam cocaína, dos quais menos de 1% é consumidor de crack. “O Brasil tem o maior mercado de cocaína de todo o mundo”, afirmou.

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