sexta-feira, 11 de março de 2016

Dependência química ainda é desafio: História de casal de usuários de crack, em Santos, aponta uma das lacunas deste problema: eles não conseguem atendimento integral

O polegar e o indicador da mão esquerda amarelados revelam a dependência de Roberto, nome fictício que será usado nesta reportagem para preservar a identidade do usuário de crack. Ele tem 36 anos e vive há mais de dez nas ruas de Santos. Ele e sua companheira, que também é moradora de rua e usa a mesma droga, saíam da Seção Núcleo de Atenção ao Toxicodependente (Senat), na Encruzilhada, quando relataram sua rotina a A Tribuna: há alguns meses o casal vai à unidade para se tratar contra o vício. Apesar do aparente esforço, Roberto diz que os dois não conseguem se manter limpos aos fins de semana, quando o Senat está fechado. “Sábado e domingo a gente guarda carro e usa o dinheiro (que ganha) para comprar crack”. O Senat também não funciona à noite, quando Roberto e a companheira voltam para a marquise na esquina das ruas Silva Jardim com a Xavier Pinheiro. A presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas (Comad), Maria Tereza Spagna Louzano, reconhece que o atendimento ao dependente químico em Santos precisa melhorar. Diz que a entidade tem trabalhado em conjunto com a Prefeitura. Ela acredita que casos como o de Roberto serão mais assistidos com a inauguração do Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps AD) na Zona Noroeste. “Ele (Caps AD) já está pronto, mas a Prefeitura informou que por problema de Recursos Humanos ainda não inaugurou. A expectativa é que isso aconteça até julho”.

AVANÇAR
A psiquiatra e professora da Unifesp, Ana Cecília Marques, afirma que os modelos de tratamento aos dependentes químicos em todo o País precisam avançar. De acordo com ela, há a necessidade de uma ação conjunta, que comece na Atenção Básica de Saúde. “Temos que evitar que esses dependentes de álcool e drogas cheguem na rua, porque quem está na rua, está no fim da linha”, diz ela, que também é coordenadora do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead).

ATENÇÃO BÁSICA
Para ela, o primeiro passo é identificar a dependência química ainda na Atenção Básica
de Saúde. “Na hora que o paciente entra na unidade de Saúde, do mesmo jeito que ele mede a pressão, é só perguntar se ele fuma, bebe, ou usa droga”. Segundo Ana, esse é um procedimento ignorado em todo o Brasil, até pelos agentes comunitários de Saúde, em cuja ficha de trabalho há um espaço para preencher essa informação. Detectar a dependência precocemente, significa impedir que ela evolua. Para saber os resultados dessas medidas, Ana integra um grupo de pesquisa da Unifesp, que há dez anos adotou a prática em Tarumã, cidade com 12 mil habitantes no Centro Oeste do Estado. Agora o projeto entra na etapa de avaliar resultados.

IMEDIATO
Ana Cecília acredita que esse cuidado na Atenção Básica produza resultados
a longo prazo. De imediato defende uma coalizão que envolva toda a comunidade e não deixe apenas nas mãos da escola o assunto. “A prevenção na família deve ser urgente. Tem que ser uma prevenção universal, cuidando do adolescente e da criança, dando o exemplo, mudando o comportamento”, finaliza.



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