Em
2012, 62% dos usuários experimentaram a droga antes dos 18 anos; em 2006, o
índice era de 40%.
SÃO
PAULO, Brasil – Ele deu o primeiro trago em 2001, quando tinha 16
anos.
Desde então, por seis anos, o comunicador
Vinícius Werner, 27, fumou maconha todos os dias. Em todo o Brasil, 1,5 milhão
de adolescentes e adultos também usam o entorpecente diariamente.
Como Werner,
62% dos usuários brasileiros tiveram contato com maconha antes de completar 18
anos, de acordo com o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
E a tendência é de alta. Em 2006, quando
foi realizado o primeiro estudo, o índice era de 40%, segundo a Unifesp.
“Quanto mais cedo ocorre o consumo da
droga, maior é a chance do desenvolvimento de dependência”, explica a
psiquiatra Clarice Sandi Madruga, coordenadora do levantamento.
Realizado em 149 municípios, o estudo ouviu
4.607 pessoas a partir dos 14 anos que responderam a um questionário sigiloso
com mais de 800 perguntas sobre o uso de álcool e drogas.
Cerca de 8 milhões de brasileiros – 7% da
população adulta – já experimentaram maconha ao menos uma vez na vida. Desse
total, 3,4 milhões de pessoas (3%) utilizaram o narcótico no último ano.
Entre os menores de idade, mais de 600.000
já tiveram algum contato com o entorpecente ao longo da vida – 470.000 deles
nos últimos 12 meses.
Tanto adultos quanto adolescentes têm
acesso à droga comprando de alguém (60% dos casos) ou ganhando de algum amigo
(35%). A diferença é que, enquanto os adultos conseguem maconha em locais
públicos e pontos de venda, os menores de idade têm outro ponto de
distribuição: a escola.
Efeitos da dependência
O Brasil não está entre os três maiores
consumidores de maconha do mundo, segundo o levantamento da Unifesp. O
percentual de indivíduos que utilizaram a droga no último ano chega a 14% no
Canadá, 13% na Nova Zelândia, 10% nos Estados Unidos e no Reino Unido e 7% no
Chile, na Argentina e no Brasil.
Mas a taxa de dependência entre os
brasileiros se equipara à de outros países: 37% dos adultos que usam maconha
são viciados – cerca de 1,3 milhão de pessoas, segundo o estudo da Unifesp.
Entre os fatores que indicam vício, estão a
ansiedade pela falta da droga e a sensação de falta de controle.
A toxicomania é menor entre os adolescentes
(menos de 10% entre usuários), mas é extremamente nociva à saúde desse grupo,
já que a substância causa alterações irreversíveis no cérebro ainda em
desenvolvimento, explica Clarice.
“O cérebro só termina de amadurecer perto
dos 25 anos, por isso o uso de maconha antes disso aumenta as chances de
desenvolvimento de outras doenças psiquiátricas, como depressão e transtornos
de ansiedade”, completa Clarice.
O consumo precoce da maconha age sobre o
sistema nervoso central diminuindo a atenção, a concentração, a memória e a
capacidade de resolver conflitos, segundo a psiquiatra e neurocientista Ana
Cecilia Marques, coordenadora do Departamento de Dependência em Álcool e Drogas
da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
“Estudos apontam que a taxa de dependência
entre jovens que consomem álcool aos 16 anos varia de 6% a 8%. Se começaram aos
12 anos, o índice sobe para 10% a 12%”, aponta Ana Cecilia, ao lembrar que não
há um estudo mais aprofundado sobre o uso precoce da maconha. “Esse percentual
também é esperado para outras drogas, pois elas afetam o sistema límbico, que é
o mesmo prejudicado pelo álcool.”
Como consequência do consumo precoce de
entorpecentes, o usuário pode ter dificuldades para estudar, trabalhar e se
relacionar com outras pessoas. Esses danos podem levar a depressão, ansiedade,
além do desenvolvimento de esquizofrenia e outras neuroses, de acordo com Ana
Cecilia.
Flexibilização
No Brasil, qualquer tipo de acesso à
maconha é proibido: desde o uso medicinal até o cultivo para consumo próprio e
a compra e venda da droga.
Nos últimos anos, porém, o debate sobre a
possibilidade de descriminalizar ou legalizar a droga ganhou força. O
ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso é uma das personalidades
que tem se manifestado a favor da mudança na legislação.
Em 2012, mais de 200 cidades sediaram a
Marcha da Maconha, uma passeata realizada por defensores da regulamentação da
erva.
“Estamos falando do fato de a proibição
trazer muitíssimos problemas e não controlar o consumo de forma alguma, nem
entre os adolescentes”, defende Alexandre de Castro, um dos organizadores da
Marcha da Maconha em Belo Horizonte (MG).
Ainda assim, apenas 11% das pessoas
entrevistadas no levantamento da Unifesp são favoráveis à legalização da
maconha, enquanto 75% são contra.
“É muito difícil predizer como seria essa
flexibilização num país como o Brasil, pois é complicado usar países pequenos
como base para esta decisão", comenta Clarice. "Além do mais, é
importante lembrar que o projeto de lei que está em votação é para todas as
substâncias psicotrópicas e não só a maconha.”
A psquiatra lembra ainda que o aumento da
disponibilidade de qualquer droga eleva seu consumo e que menos de 20% dos
viciados procuram tratamento médico.
“Independente da discussão da lei, é
inquestionável a necessidade de mais centros de atenção primária,
principalmente de CAPS-AD (Centros de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas)”,
defende Clarice.
Para Ana Cecilia, antes de discutir
legalização de outras drogas, o governo deve garantir que menores não tenham
acesso a entorpecentes hoje considerados legais.
“Eu só acredito em uma coisa: uma política
que proteja a criança e o adolescente de drogas inclusive legais, como o álcool
e o tabaco, que também são proibidas para menores de 18 anos”, afirma Ana
Cecilia.
Disponível
em: http://infosurhoy.com/cocoon/saii/xhtml/pt/features/saii/features/main/2012/11/07/feature-02
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