Ponto
de consumo de crack, quarteirão de ruas tradicionais no centro de São José
afeta o atendimento de unidade de reabilitação e casa que presta serviços a
gestantes; funcionários viram reféns de usuários
Caroline Lopes
Funcionários da Unidade de Reabilitação Centro-Norte e da Casa da
Gestante-Projeto Casulo, ambos subordinados à Prefeitura de São José dos
Campos, contam que usuários de crack estão trazendo transtornos nos arredores
das duas unidades, na rua Antônio Moraes Barros, no Centro. A Prefeitura de São
José promete providências.
O VALE aponta, desde 2011, que se formou uma ilha de consumo de crack no
quadrilátero formado pelas ruas Antonio de Morais Barros, Major Antonio
Domingues, Coronel Madeira e Avenida Madre Tereza, no Centro.
Relatos. Funcionários
da Unidade de Reabilitação Centro-Norte contam que já tiveram vários problemas
e conflitos com a presença dos dependentes. “Há seis meses um travesti pulou
aqui para dentro da unidade e, de tão chapado, não conseguia saltar de volta.
Tivemos que chamar a polícia”, conta uma das trabalhadoras da unidade. “Nos
sentimos impotentes porque, em um ou dois meses, vemos pessoas sendo
transformadas em verdadeiros farrapos humanos. Perdem os dentes, ganham aspecto
de caveiras”, disse outra funcionária do mesmo local.
Agressivos. Segundo
os funcionários, um grupo de usuários formado sempre pelas mesmas pessoas é
tranquilo e não incomoda ninguém. Mas, ultimamente, o local está atraindo
usuários diferentes daqueles já conhecidos.
“Tem aparecido novos usuários, que xingam, pedem dinheiro e vivem arrumando
confusão. Há ainda brigas entre os dependentes. Eles brigam entre si, causam
bastante confusão. É raro eles mexerem com os pacientes porque deixamos os
portões fechados. Mas às vezes até isso acontece”, afirmou outro funcionário do
local. Na unidade de reabilitação, afirmam os funcionários, a lixeira teve de
ser trancada. “Porque eles estavam escondendo drogas lá dentro”.
Projeto Casulo. Não
é muito diferente a situação na Casa da Gestante-Projeto Casulo. Eles abordaram
funcionárias logo na entrada. A maioria usa a abordagem para pedir dinheiro. É
preciso que os funcionários sejam firmes para que os usuários se afastem.
Uma funcionária contou que um casal com recém-nascido que deixava a unidade foi
roubado na porta da centro há cerca de um mês.
“Não lembro o que levaram, mas ameaçaram o marido, dizendo que se ele falasse
algo eles entrariam aqui”.
Em outra ocasião, diz a funcionária, um dos dependentes de crack entrou no
banheiro da unidade. “Quando vimos, ele já tinha entrado e tomado banho aqui
dentro”.
Providências. A Secretaria de Saúde de São José
informou que estuda uma forma de controlar o acesso aos dois serviços
municipais, além de intensificar as rondas da Guarda Municipal nos arredores.
Uma reunião entre os secretários da Saúde, Paulo Roitberg, e da Defesa do
Cidadão, José Luís Nunes, tratou do assunto. A prefeitura argumenta que mantém
serviços de abordagem e de tratamento. Já a PM afirma que faz rondas
rotineiras, mas não pode remover os usuários se eles não estão cometendo atos
ilícitos.
Crack é a última droga, revela pesquisa
“O crack é a última das drogas na carreira de um usuário”. A frase é da
presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos de Álcool e outras
Drogas), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Ana Cecília Marques.
“Pesquisas feitas no Brasil revelam que quase ninguém começa no vicio pelo
crack. A maioria dos usuários de crack, que nada mais é do que a cocaína
fumada, antes, já era dependente de outras drogas, principalmente a cocaína
inalada”.
Danos. Os
maiores prejuízos causados pelo crack ao organismo são de ordem cardíaca e
respiratória. “Ele causa acidente vascular cerebral, infartos, embolias
pulmonares, câncer e infecções”, diz a especialista. No entanto, é um mito
dizer que o crack é a droga mais perigosa. “Vai depender do organismo. A droga
libera no cérebro a dopamina, que pode ter efeito desinibidor, de
auto-estimulação, de euforia, de desorganização mental. Cada indivíduo terá uma
resposta”.
Números. Estudo
da Abead no ano passado revela que 2% dos brasileiros entre 15 e 65 anos usam
cocaína, dos quais menos de 1% é consumidor de crack. “O Brasil tem o maior
mercado de cocaína de todo o mundo”, afirmou.